CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Paraíba (PB), um dos nove estados da Região Nordeste do Brasil, a sexta menor das 27 Unidades da Federação (UFs), enfrenta um desafio que se reflete diretamente nos principais indicadores socioeconômicos. Apesar dos avanços econômicos registrados em vários segmentos ao longo dos últimos cinco anos, como a construção civil, a mineração e o turismo, a PB tem a pior remuneração média do Brasil.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Paraíba tem a menor remuneração média a preços de dezembro de 2023, com apenas R$ 2.310,20. Os trabalhadores paraibanos com emprego formal receberam, em média, 49% menor do que os trabalhadores formais do Distrito Federal (DF), com R$ 4.557,74. Esse cenário econômico impacta não apenas a qualidade de vida da população paraibana, mas também a capacidade do estado em atrair investimentos e reter talentos.
O principal objetivo do artigo é analisar os principais indicadores econômicos da Paraíba, os principais fatores que contribuem para a baixa remuneração média no estado, e as principais consequências do baixo salário médio na PB. Além disso, discutir as principais estratégias para a superação do quadro alarmante, cujo líder do governo estadual não expõe nem debate suas possíveis soluções nas mídias sociais.
BREVE ANÁLISE DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS DA PARAÍBA
A economia da Paraíba ainda enfrenta dificuldades para promover o crescimento econômico robusto. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado da PB tem uma participação baixa no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com apenas 0,9% de participação no PIB brasileiro em 2021, o que reflete as limitações estruturais que afetam diversos setores da economia paraibana, como a agricultura, a pecuária, a indústria e o comércio.
A baixa participação da Paraíba no PIB (a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no estado) brasileiro é resultado da baixa produtividade, do acesso restrito às tecnologias avançadas e da desindustrialização precoce. Outros fatores afetam diretamente as limitações do crescimento econômico do estado, como a queda dos preços dos produtos do setor sucroenergético (açúcar, etanol, álcool 70 graus, cachaça, aguardente, rapadura e o bagaço de cana utilizado na energia da biomassa).
Dados recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do MTE revelam que a Paraíba possui a menor remuneração média do Brasil. Esse cenário econômico é preocupante, especialmente quando consideramos a forte dependência da população paraibana de empregos formais, que demandam pouca qualificação profissional e oferecem oportunidades limitadas de crescimento laboral, além de enorme contingente de trabalhadores no setor público:
RANKING BRASILEIRO | UF | REMUNERAÇÃO MÉDIA |
1º | PARAÍBA | R$ 2.310,20 |
2º | PIAUÍ | R$ 2.317,29 |
3º | ACRE | R$ 2.339,92 |
4º | RIO GRANDE DO NORTE | R$ 2.344,74 |
5º | ALAGOAS | R$ 2.358,12 |
6º | RORAIMA | R$ 2.394,04 |
Quadro 1. As seis piores remunerações médias do Brasil em 2023. Fonte: MTE. |
Os dados do MTE indicam uma forte presença de estados do Nordeste (PB, PI, RN e AL) e do Norte (AC e RR) no ranking das seis menores remunerações do Brasil, revelando uma concentração de menor poder aquisitivo nessas duas regiões, o que evidencia as disparidades econômicas regionais, reflexo da dependência de setores econômicos menos dinâmicos, como a agricultura e a pecuária.
Este cenário econômico da Paraíba acende um alerta, especialmente quando se considera a estrutura do mercado de trabalho local, marcada por uma forte dependência de empregos formais de baixa qualificação profissional e um elevado contingente de trabalhadores no setor público, só o governo estadual injeta mais de R$ 641 milhões por mês na economia paraibana com a folha salarial.
A Paraíba tem na agropecuária um dos principais pilares do seu PIB nominal de R$ 77,4 bilhões em 2021, com o setor agropecuário contribuindo com 4,7% desse total, segundo o IBGE. O setor de serviços teve a maior participação no PIB estadual, representando 80,4% no ano de 2021. Em seguida, em segundo lugar, a indústria correspondeu a 14,9% da economia do estado.
O setor agropecuário é um dos principais motores da economia paraibana. O Valor Adicionado Bruto (VAB) do setor Agropecuário foi de R$ 3,190 bilhões no ano de 2021, conforme o IBGE. A Paraíba possui um território diversificado que favorece uma ampla gama de atividades agropecuárias. Desde a produção de grãos, como milho e feijão, até culturas de destaque como a cana-de-açúcar e o abacaxi, o estado nordestino apresenta uma agricultura variada e adaptada às suas condições climáticas e de solo.
Além disso, a pecuária, com foco na criação de bovinos e caprinos, desempenha um papel relevante na economia paraibana. A agropecuária não só fornece alimentos essenciais para a população paraibana, mas também na geração de empregos formais e renda.
A expansão das atividades agrícolas e pecuárias cria oportunidades de trabalho nas áreas rurais e ajuda a reduzir as disparidades socioeconômicas vigentes. A Paraíba tem 163.218 estabelecimentos rurais em 223 municípios, de acordo com o IBGE, porém o êxodo rural não foi maior por causa da falta de terrenos públicos nos principais centros urbanos ou por seus altos preços.
A mecanização agrícola é fundamental para o crescimento da produção, da produtividade e da exportação de produtos agropecuários, devido o aumento da eficiência, a redução de custos, a melhoria da qualidade dos produtos, a capacidade de produção em larga escala e a redução de perdas.
O VAB da Agricultura foi de R$ 1,393 bilhão no ano de 2021, segundo o IBGE. A lavoura temporária é predominante no território paraibano, com a cana-de-açúcar e o abacaxi se destacando entre as principais culturas. Na safra 2022/2023, a Paraíba produziu aproximadamente 7,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, consolidando-se como um dos três principais produtores dessa cultura no Nordeste, atrás apenas de Alagoas e Pernambuco.
Já o abacaxi teve uma produção de cerca de 263,3 mil toneladas de abacaxi, tornando a Paraíba o segundo maior produtor brasileiro dessa fruta tropical, atrás apenas do Pará. No estado da PB, destacam-se também as culturas de milho e feijão. De acordo com o IBGE, em 2022, a produção de milho no estado foi de aproximadamente 445 mil toneladas, enquanto a produção de feijão alcançou cerca de 36 mil toneladas.
Outras culturas de destaque incluem a mandioca, com uma produção de cerca de 131,8 mil toneladas, a batata-doce com aproximadamente 17 mil toneladas, a batata-inglesa com 6 mil toneladas e o inhame com 54,4 mil toneladas em 2021. Culturas importantes, como a cebola e o arroz, tiveram produções de 8 mil toneladas e 1,2 mil toneladas, respectivamente.
Esses dados refletem a diversidade e a importância da agricultura na Paraíba, evidenciando a relevância econômica das lavouras temporárias (abacaxi, algodão, alho, arroz, amendoim, batata-doce, batata inglesa, cana-de-açúcar, cebola, fava, feijão, mandioca, macaxeira, inhame, milho e hortaliças), além de lavouras permanentes como frutas, café, pimenta do reino, sisal, palma forrageira e urucum.
Já o VAB da Pecuária foi de R$ 1,320 milhões em 2021. A pecuária é uma atividade relevante na PB e o estado possuía, em 2022, um rebanho bovino de aproximadamente 1,371 milhão de cabeças. A criação de suínos também é significativa, com um rebanho de cerca de 288,3 mil cabeças.
A avicultura é outra atividade importante, com uma produção de aproximadamente 21 milhões de dúzias de ovos de galinha e um rebanho de 12,7 milhões de aves. A caprinovinocultura também se destaca, com rebanhos de aproximadamente 797 mil cabeças de caprinos e de aproximadamente 778 mil cabeças de ovinos em 2022.
A Paraíba é o maior produtor de leite de cabra do Brasil e de queijo de cabra do Nordeste, evidenciando a relevância da caprinocultura na economia estadual. Esse segmento não apenas contribui para a geração de renda, mas também promove o desenvolvimento de produtos lácteos diferenciados.
A pecuária na PB desempenha um papel importante na economia do estado, refletindo sua diversidade e relevância econômica. A pecuária abrange diferentes segmentos, incluindo a criação de bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves, cada um contribuindo para o crescimento do PIB paraibano.
A diversidade da agropecuária reflete no seu papel no desenvolvimento rural da PB. A atividade agropecuária não só contribui para a economia da PB, mas também promove a inclusão social, a geração de empregos e a melhoria da qualidade de vida nas comunidades rurais.
É necessário aumentar a participação de 14,9% da indústria no PIB do estado em 2021 para 20,0% do PIB paraibano em 2026. Entre as atividades industriais, destacam-se a produção de alimentos e bebidas, têxteis, construção civil, couro e calçados, além do crescente setor de energias renováveis, como a solar e a eólica É fundamental atrair mais investimentos nacionais e internacionais, e criar novos Distritos Industriais, e, sobretudo, mais investimentos nas agroindústrias e nas indústrias cimenteira e cerâmica.
A PB é o segundo maior produtor de cimento do país, todavia, apresenta uma estrutura econômica que enfrenta dificuldades para acompanhar o ritmo de crescimento econômico de outras UFs. Desde 2019, a contribuição da PB para a formação do PIB brasileiro é abaixo de 1%, conforme os dados do IBGE.
Em 2010 a participação da PB no VAB da indústria de transformação brasileira era de 0,56% caindo para 0,38% no ano de 2021. Com a desindustrialização precoce na Paraíba, sem indústria forte, não é possível o estado escapar do pior salário médio do Brasil a curto prazo. É a indústria que paga os melhores salários aos trabalhadores formais.
O estado da PB tem forte presença do setor de serviços que, apesar de dinâmico, ainda apresenta baixas remunerações para a maioria dos trabalhadores. É fundamental uma maior aproximação do setor educacional público e privado do ensino superior com o setor terciário nos 223 municípios paraibanos.
PRINCIPAIS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A BAIXA REMUNERAÇÃO MÉDIA NA PARAÍBA
A liderança da Paraíba entre os seis piores estados em salário médio do país e abaixo da média nacional de R$ 3.514,24, pode ser atribuída a diversos fatores, tais como: i) a baixa qualificação da mão de obra; ii) a baixa produção industrial; iii) a baixa mecanização agrícola; e iv) a alta concentração de atividades profissionais no setor público.
Embora o estado da PB tenha feito progressos na expansão do acesso à educação básica e superior, a qualidade do ensino ainda é um desafio, especialmente em áreas rurais e menos favorecidas economicamente. A Paraíba tem a terceira maior taxa de analfabetismo do Brasil, com 13,2%.
A baixa qualificação da mão de obra dificulta a inserção de trabalhadores em setores com maiores níveis de pagamentos, como tecnologia da informação (TI) e serviços especializados. Além disso, a baixa qualificação profissional impacta diretamente a produtividade dos setores, limitando a capacidade de gerar empregos de alta qualidade.
A maior parte da economia paraibana é composta por setores com baixo valor agregado, como o comércio e a agricultura familiar. Esses segmentos, historicamente, oferecem oportunidades mais baixas, principalmente em comparação com áreas de alta tecnologia ou setores complexos. A dependência desses setores tradicionais impede a modernização da economia paraibana.
A Paraíba é responsável por 0,1% das exportações brasileiras de produtos industrializados no ano de 2023, com US$ 161 milhões em exportações industriais. É necessário que mais setores industriais contribuam com as exportações paraibanas, como o agronegócio, a química, a farmacêutica, porque a economia paraibana sofreu com as perdas das indústrias algodoeira e sisaleira (a produção de fios naturais, tapetes e carpetes de sisal).
A mecanização agrícola desempenha um papel crucial no aumento da produção, produtividade e exportação dos produtos agropecuários da Paraíba. No entanto, o número de tratores, colheitadeiras, equipamentos e máquinas agrícolas disponíveis ainda é insuficiente para atender às demandas do setor. Essa carência limita o potencial de crescimento da agricultura paraibana, impactando diretamente a eficiência nas colheitas, o manejo do solo e a expansão das áreas cultiváveis.
A elevada concentração de atividades profissionais no setor público no estado da Paraíba é um fenômeno que desperta preocupação entre economistas. Essa tendência pode ser explicada por uma combinação de fatores históricos, econômicos e sociais que moldaram o mercado de trabalho local, mas também traz consigo uma série de desafios nas 23 microrregiões paraibanas.
Historicamente, o serviço público na PB tem sido uma das principais portas de entrada para o emprego formal. A escassez de oportunidades no setor privado, agravada pela desindustrialização, faz com que muitos profissionais busquem estabilidade e segurança no funcionalismo público federal, estadual ou municipal.
PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DA BAIXA REMUNERAÇÃO MÉDIA NA PARAÍBA
Com 4,145 milhões de habitantes, a Paraíba é o 14º estado mais populoso do país. O município paraibano mais populoso é João Pessoa, com 888.679 habitantes e o município menos populoso é São José do Brejo do Cruz, com 1.748 pessoas, conforme o IBGE. É preciso ressaltar também que as principais consequências da baixa remuneração média na Paraíba são: i) Fuga de talentos e êxodo rural; ii) Elevada desigualdade econômica; e iii) Baixo consumo das famílias.
O êxodo rural, onde trabalhadores de microrregiões menos desenvolvidas deixam suas áreas de origem em busca de melhores condições de vida nos centros urbanos, também se intensifica, gerando uma pressão sobre a saúde, educação e segurança pública.
A Paraíba já enfrenta alto nível de desigualdade econômica, é o pior Índice de Gini do Brasil, com 0,558 em 2023, e os baixos salários médios agravam ainda mais esse cenário. Em mesorregiões como o Sertão Paraibano e a Borborema, onde a pobreza é elevada e a desigualdade de renda é acentuada, a PB não poderá melhorar a remuneração média de seus trabalhadores.
A diferença salarial entre as zonas urbanas, como João Pessoa e Campina Grande, e as áreas rurais criam um abismo econômico, impedindo um desenvolvimento sustentável. O poder de compra reduzido dos trabalhadores paraibanos afeta diretamente o comércio e os serviços locais.
Com uma base de consumo das famílias fragilizada, os empresários enfrentam dificuldades para expandir seus negócios, o que gera um ciclo vicioso da pobreza. Esse cenário limita as possibilidades de crescimento do PIB, pois o mercado interno depende fortemente dos consumidores com maior poder de compra.
PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS PARA A SUPERAÇÃO DO QUADRO ALARMANTE
Em minha opinião, as principais estratégias para superação do quadro alarmante são: i) Investimentos em educação de qualidade e capacitação profissional; ii) Incentivos à inovação e ao empreendedorismo; iii) Melhorias na infraestrutura logística; e iv) Investimentos no agronegócio.
Para que a Paraíba possa quebrar esse ciclo de baixos salários, é fundamental investir em educação de qualidade e capacitação profissional. Programas de qualificação específicos para áreas estratégicas, como TI, energias renováveis, agroindústrias e turismo, podem preparar a força de trabalho para setores com maior potencial de geração de emprego e renda.
O estado deve buscar políticas que incentivem a inovação e o empreendedorismo. A criação de parques tecnológicos, incubadoras de startups e o fortalecimento de polos industriais podem ajudar a gerar empregos formais. Campina Grande, por exemplo, já é referência no setor de tecnologia e pode servir como modelo para outras cidades do estado.
As melhorias na infraesturutura logística passam necessariamente na reativação da malha ferroviária de cargas e de passageiros no território paraibano e na conclusão da duplicação da BR-230 no trecho de Campina Grande até Patos, que liga a segunda cidade mais populosa a quarta da Paraíba, com 440.939 habitantes e 107.774 pessoas, respectivamente.
É fundamental o uso de tecnologias agropecuárias de alta produtividade nas quatro mesorregiões paraibanas (Mata Paraibana, Agreste Paraibano, Borborema e Sertão Paraibano). Podemos realizar contribuições o desenvolvimento da agricultura e pecuária local. A implementação dessas tecnologias permite o aumento da eficiência no uso de recursos naturais, a melhoria da qualidade dos produtos agropecuários e a competitividade no mercado nacional e internacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Paraíba, apesar de suas riquezas naturais e culturais, enfrenta um desafio crítico: o pior salário médio do Brasil. Os baixos salários não apenas limitam a qualidade de vida dos paraibanos, mas também perpetuam um ciclo vicioso da pobreza.
A Paraíba é o maior produtor de fava e de inhame e o segundo maior produtor de abacaxi e de sisal do Brasil, além de terceiro maior produtor de cana-de-açúcar, o quarto maior de mamão e o quinto maior de banana do Nordeste.
Ao longo do quinquênio 2019-2024, o setor agropecuário tem mostrado sua resiliência e capacidade de adaptação, enfrentando desafios como mudanças climáticas e gestão de recursos naturais. A diversificação das culturas e o investimento em práticas sustentáveis não só aumentam a produtividade, mas também garantem a conservação dos recursos naturais.
Olhando para o futuro, em plena Quarta Revolução Industrial, é essencial continuar investindo em tecnologias inovadoras que aumentem a eficiência produtiva e garantam a qualidade dos produtos agropecuários (feijão verde, arroz vermelho, algodão colorido e sisal) para os mercados interno e externo. A agropecuária é um setor guardião dos recursos naturais e um catalisador do progresso social, posicionando a PB no caminho certo para um desenvolvimento sustentável.
Finalizando, a superação desse cenário econômico de remuneração média mais baixa do Brasil e do Nordeste exige uma combinação de políticas públicas eficazes e estratégias empresariais eficientes, alinhadas a uma visão de desenvolvimento sustentável para atuais e futuras gerações. Para isso, é fundamental que o foco seja direcionado a áreas estratégicas que podem impulsionar o crescimento da economia paraibana.
REFERÊNCIA