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02/08/2022 às 14h42min - Atualizada em 02/08/2022 às 14h42min

Os 90 anos de Robert Mundell

Prof. Paulo Galvão Júnior
Reprodução
O presente artigo é uma singela contribuição nas comemorações alusivas aos 90 anos do economista canadense Robert Mundell (1932-2021). O economista Robert Alexander Mundell nasceu em 24 de outubro de 1932, na cidade de Kingston, na província canadense de Ontário, em plena Grande Depressão.
 
Robert Mundell, filho de William Campbell Mundell e Lila Knifton, nasceu na bela, histórica e pequena Kingston, localizada às margens do Lago Ontário, sendo a primeira capital da Província Unida do Canadá com 196 km de distância de Ottawa, a capital do Canadá desde 1 de julho de 1867. De Kingston o jovem Robert Mundell mudou para Vancouver, na província de British Columbia (BC), onde foi graduado em Economia pela University of British Columbia (UBC) em 1953. Em seguida, atravessou a fronteira para Seattle, uma cidade portuária do estado de Washington, nos Estados Unidos da América (EUA), onde obteve o seu mestrado em Economia pela University of Washington (UW) em 1954.
 
Posteriormente, em Cambridge, no estado de Massachusetts, nos EUA, Robert Mundell conquistou o seu PhD em Economia pela Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1956, cujo orientador foi o renomado economista e proeminente professor americano Charles Kindleberger (1910-2003). Em seguida, concluiu o seu pós-doutorado em Política Econômica pela conceituada University of Chicago em 1957.
 

O Professor Robert A. Mundell lecionou na University of Stanford, University of Pennsylvania, University of Chicago entre 1966 e 1971 e Columbia University entre 1974 e 2014, nos EUA, como também, na McGill University e University of Wartello, no Canadá. E o Professor Robert A. Mundell foi eleito professor emérito da University of Chicago e da Columbia University, em Nova York.
 
O Professor Robert A. Mundell ensinou também em universidades europeias (Itália e Suíça) e asiáticas (China) e tornou-se conhecido pelos economistas de todo o mundo pelo desenvolvimento do Modelo Mundell-Fleming, em parceira com colega do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista escocês John Marcus Fleming (1911-1976), no ano de 1962, nas análises do modelo keynesiano do mercado de bens e do mercado monetário, o Modelo IS-LM de uma economia fechada, desenvolvido pelo economista inglês John Hicks (Prêmio Nobel de Economia de 1972), passando para uma economia aberta, ou seja, o intercâmbio comercial entre países exportadores e importadores, com análises do Balanço de Pagamentos (BP), dos regimes de câmbio fixo ou flexível, além das condições da mobilidade perfeita de capitais internacionais atraídos pela alta taxa de juros do país.
 
Entre os seus renomados ex-alunos, destacam-se os economistas Rudiger Dornbusch (1942-2002), Michael Mussa (1944-2012), Maurice Obstfeld, Jacob Frenkel, Kenneth Rogoff e Peter Pedroni e a economista Carmen Reinhart. Com certeza, um ex-aluno de graduação em Economia no Canadá, nos EUA, na Itália, na Espanha, na Argentina ou no Brasil já passou horas estudando o Modelo Mundell-Fleming, ou seja, o Modelo IS-LM-BP. Este modelo foi inovador ao realizar a mudança do Modelo IS-LM, de economia fechada para uma economia aberta, com análises das políticas monetária e fiscal expansionista ou contracionista sob diferentes regimes cambiais (taxa fixa ou flutuante), assim resultando um déficit ou superávit no BP a curto prazo.
 
Sobre o Modelo Mundell-Fleming é possível destacar as análises dos economistas e professores Rudiger Dornbusch e Stanley Fischer do MIT, no livro Macroeconomia, “Sob taxas de câmbio fixas e perfeita mobilidade de capital, um país não pode promover uma política monetária independente” (DORNBUSCH; FISCHER, 2006, p. 230). Em seguida, “Sob taxas de câmbio totalmente flexíveis, a ausência de intervenção implica um balanço de pagamentos = 0” (DORNBUSCH; FISCHER, 2006, p. 234).
 
Em 8 de dezembro de 1999, em Estocolmo, na capital da Suécia, o economista canadense Robert Alexander Mundell foi laureado pelo Prêmio Nobel de Economia de 1999, “por sua análise da política fiscal e monetária na presença de diferentes regimes cambiais e por sua análise de áreas monetárias ótimas”, recebendo seu renomado Prêmio Nobel de Economia (PNE) das mãos do rei sueco Carl XVI Gustaf, sendo o terceiro economista que nasceu no segundo maior país do mundo dos economistas laureados com o PNE, depois do falecido William Vickrey (Nasceu em Victoria em 1914 e PNE de 1996) e de Myron Sholes (Nasceu em Timmins em 1941 e PNE de 1997) e antes de David Card (Nasceu em Guelph em 1956 e PNE de 2021).
 
Robert Mundell é considerado como o pai do Euro, porque foi consultor do Comitê Monetário da Comissão Econômica Europeia (CEE) no ano de 1970 e membro do Grupo de Estudos sobre a União Econômica e Monetária (UEM) na Europa no biênio 1972-1973, defendendo as vantagens para os países europeus ocidentais abandonarem a soberania monetária em favor de uma moeda comum, assim propondo unir economias numa única moeda. Mas, o próprio Mundell rejeitava a paternidade e se dizia apenas um padrinho ou um dos vários padrinhos do Euro, lançado em 1 de janeiro de 1999. E foi consultor também da Organização das Nações Unidas (ONU), do FMI entre 1961 e 1963, do Banco Mundial, do Governo do Canadá e do Federal Reserve Board (FED), dentre outros.
 
Robert A. Mundell é autor de inúmeros artigos e de vários livros, destacam-se: International Economics (1968); Man and Economics (1968); Monetary Theory: Interest, Inflation and Growth in the World Economy (1971); The Euro as a Stabilizer in the International Economic System (2000). Em seu livro mais importante e mais traduzido, Man and Economics, é possível entender o pensamento econômico de Robert Mundell, “Economics is the science of choice” (MUNDELL, 1968, p. 4). Posteriormente, “Preferences are joined with opportunities in the act of choice” (MUNDELL, 1968, p. 13).
 
Vale lembrar que Robert Mundell é conhecido também pelo Efeito Mundell-Tobin (o efeito real da elevação da inflação sobre a taxa de juros reais e os investidores, mostrando que um aumento na inflação esperada pode aumentar a taxa de juros nominais) e pelo Robert Mundell Prize pelo Canadian Economics Association (CEA) ao melhor artigo de um jovem economista com doutorado publicado no Canadian Journal of Economics (CJE) desde 2003.
 
Por fim, o legado do célebre economista canadense Robert Mundell, considerado como o pai da macroeconomia aberta e o pai intelectual do Euro, evidencia as valiosas contribuições nos campos da Economia Internacional e da Economia Monetária, além dos pensamentos sobre as políticas fiscal, monetária e cambial nos debates sobre os problemas macroeconômicos atuais.
 
Para concluir, Robert Mundell morreu em 4 de abril de 2021, aos 88 anos, de causas naturais em seu palácio renascentista com mais de 60 quartos, na vila Santa Colomba, em Monteriggioni, uma pequena cidade na província de Siena, situada na região da Toscana, na Itália, deixando 4 filhos (Paul, William, Robyn e Nicholas), a segunda esposa Valerie Mundell e muitos amigos no Canadá e no mundo.

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