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30/03/2024 às 10h11min - Atualizada em 30/03/2024 às 10h11min

Setor da construção está fraco neste mês em Toronto

Brasileiros relatam falta de emprego e de novos projetos nessa área em março de 2024

Larissa Valença
Redação North News
O brasileiro Julio Cesar Savegnago trabalha na área há cerca de 7 anos | Fotos: Arquivo Pessoal
 
Toronto vem enfretando uma crise no setor da construção. A conta está elevada para quem resolve comprar um imóvel devido à alta dos juros para mortgages e isso tem impactado no mercado da construção como um todo. Além de outros fatores que vem culminando nesse cenário. Muitos projetos estão sendo colocados em pausa, e quem trabalha na construção vem enfrentando falta de trabalho nesse mês de março.

Segundo profissionais do setor, essa escassez de trabalho na área pode durar mais um tempo. Uma situação muito parecida já havia acontecido em 2019, deixando muitos profissionais da construção em casa, sem trabalho.

A alta da taxa de juros e outros elementos, como o preço alto dos materiais e alguns fatores econômico e sociais, tudo isso tem contribuído para esse cenário que pode ser considerado crítico.


A economia canadense não está passando pelo o seu melhor momento. O Banco do Canadá anunciou em março de 2024 que a taxa de juros seria mantida em 5%. A inflação deve ficar em 3%  até o meio do ano. Esses números ajudam a refletir a situação econômica do Canadá. Aliás, o mercado canadense para quem tem diversos tipos de negócio está sendo considerado pelos proprietários como fraco nesse início de 2024, já que, também, tem gerado pouco lucro. 

A construção de casas caiu em 10% de dezembro de 2023 a janeiro de 2024, segundo dados do governo canadense. E parece que a situação se acentuou mais, desde então.

O setor da construção no Canadá é conhecido pelos brasileiros que chegam para o país pela alta demanda de mão de obra. Geralmente, há bastante trabalho, principalmente aqueles chamados de entry-level, ou seja, os de posições ou níveis iniciais de uma empresa. Porém, nesse mês de março, o mercado da construção tem se mostrado bastante estagnado. 

Julio Cesar Savegnago, que trabalha na área há cerca de 7 anos, relata que nesse último mês viu muita gente procurando por empregos na área da construção. “Havia uma fila enorme de pessoas sentadas em uma calçada de Toronto esperando por um emprego no setor. Parecia cena de filme”.

Segundo a experiência de Julio neste mês a quantidade de casas que estão sendo feitas está diminuindo, as escavações estão paradas pois as vendas de casas estão fracas. “Pelo o que escutamos no setor com a alta dos juros, a população recuou na compra de casas e também pelo endividamento da população, há muita gente com dívidas, que não consegue pagar os financiamentos, todos esses fatores impactam na construção. Além de que agora os investidores estrangeiros não conseguem financiar ou comprar um imóvel no Canadá, tudo isso afeta o sistema imobiliário e com isso reduz a venda dos imóveis e consequentemente a construção das casas diminuem’’, explica. 

Um dos principais desencadeadores apontados por Julio é o valor elevado da taxa de juros relativa aos mortgages. O próximo anúncio do banco do Canadá em relação aos juros do mortgage será feito em 10 de abril. Especialistas apontam que não haverá nenhuma mudança muito significativa, e ficará em torno de 5%, o mesmo valor estabelecido em março, ou seja segue alto.

Os preços altos têm levado a população canadense ao endividamento, outro fator mencionado por Julio. O preço das casas, por exemplo, aumentou cerca de 48% em 2022, em comparação com 2013, quando o preço das casas eram em média de $522.951 dólares canadenses. O impacto das altas taxas de juros e o elevado custo de vida deixa a população muito mais vulnerável financeiramente falando. De acordo com um estudo recente feito pelo Professional Accountants of Canada, cerca de 46% dos canadenses possuem algum tipo de débito. 

Outro fator apontado por Julio foi o fato do Canadá estar banindo os estrangeiros, que não são residentes permanentes ou cidadãos canadenses da compra de propriedades residenciais. Corporações controladas por não-canadenses também fazem parte da proibição. A medida, que passou a valer no início de 2023, foi estendida pelo governo canadense até 2026.

Julio ressalta que atualmente eles estão com pouca demanda no trabalho. ‘’No momento a gente está fazendo o básico e só. Há poucas casas sendo feitas, o suficiente muitas vezes só para manter os funcionários. Há muitos trabalhadores em casa, parados, já sem emprego, e muitas empresas dispensando os funcionários. Infelizmente esse é o cenário que temos vivido e por esses próximos meses não tem muita expectativa de melhora’’, relata. 

Julio conta que, de acordo com a sua experiência, ele e seus colegas do setor tem feito o mínimo de horas possível para manter o trabalho e desta forma conseguir sobreviver e sustentar as suas famílias na maior cidade do Canadá, a que tem um dos maiores custos de vida. Apenas o aluguel de um quarto em Toronto, atualmente, custa cerca de mil dólares. 

 O preço médio das casas nas duas maiores cidades do Canadá, Toronto e Vancouver, ultrapassaram a marca de 1 milhão de dólares canadense, colocando-as nas listas das 10 cidades mais inacessíveis do mundo. 

De acordo com Paulo Carrasco, que também atua na área da construção antes o setor estava numa fase em que os empregadores pediam para acelar o trabalho. E agora, pedem para desacelerar, que os empregados não trabalhem aos sábados, às vezes arrumam imprevisto. Tudo para que os funcionários não trabalhem tão rápido na obra.

“Essa situação é reflexo do aumento dos juros dos mortgages e porque o governo bloqueou os não-canadenses de comprar imóveis, tudo afetou na diminuição das vendas de casas. Têm muitos colegas parados, sem trabalho nenhum. Eu vejo que nos locais de trabalho, não tem escavação para levantar novas casas, isso é um sinal ruim, só há casas em que a obra já está em andamento. A gente que trabalha na área sabe que a partir do momento que começa a levantar a casa é sinal que o imóvel foi vendido, então, se não há escavação é sinal que não está vendendo”, conclui. 

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