Considerações Iniciais O presente artigo começa com uma relevante pergunta: Por que a China é a segunda maior economia do mundo? A resposta não é simples, é necessário entender uma série de transformações econômicas e sociais profundas na República Popular da China desde 1978.
Atualmente, a China tem 1,425 bilhão de habitantes, é o segundo país mais populoso do planeta, atrás apenas da Índia. A China tem uma área territorial de 9.596.961 quilômetros quadrados, é a terceira nação mais extensa do mundo, atrás da Rússia e do Canadá. A China tem um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 18,532 trilhões, é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA), com PIB de US$ 28,781 trilhões, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A diferença atual entre o PIB dos EUA e da China já alcançou US$ 10,249 trilhões em 2024, é quase o equivalente a soma dos PIBs de três países membros do Grupo dos Vinte (G20): Alemanha (US$ 4,591 trilhões), Japão (US$ 4,110 trilhões) e Indonésia (US$ 1,475 trilhões), de acordo com os dados mais recentes do FMI.
Deng Xiaoping e a Economia Socialista de Mercado Deng Xiaoping (1904-1997) assumiu o poder da República Popular da China em 8 de março de 1978, após a turbulenta Revolução Cultural (1966-1976), liderada por Mao Tsé-Tung (1893-1976). Com a morte de Mao em 9 de setembro de 1976, Deng começou a reestruturar a economia chinesa, combinando elementos de economia de mercado com o sistema socialista, criando o que ficou conhecido como economia socialista de mercado.
As reformas econômicas iniciadas sob a liderança de Deng Xiaoping foram os primeiros passos para o crescimento econômico rápido e robusto da China. Seu pragmatismo era capturado na frase: "Não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato". Em outras palavras, o que importava para Deng eram os resultados práticos, não uma ideologia rígida.
Em 1978, embora o país continuasse sob o rígido controle do Partido Comunista Chinês (PCCh), Deng introduziu práticas capitalistas em setores estratégicos da economia chinesa. Ele entendeu rapidamente que a China precisava se abrir ao mundo para se desenvolver e competir globalmente. Uma das principais estratégias de Xiaoping foi a criação da Zona Econômica Especial (ZEE), onde o investimento estrangeiro direto (IED) era incentivado e as regras econômicas eram mais flexíveis em duas das 22 províncias chinesas.
A política das Quatro Modernizações de Deng Xiaoping foram a Defesa, a Agricultura, a Ciência e Tecnologia, e a Indústria. E na política industrial destacam-se as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que se tornaram polos de inovação e manufatura, ajudando a integrar a China ao comércio mundial e a modernizar rapidamente sua economia.
Abertura Econômica e ZEEs O marco inicial da transformação econômica da China foi o planejamento estatal aliado a criação das primeiras ZEEs nas cidades de Shenzhen, Zhuhai e Shantou, na província de Guangdong, e em Xiamen, na província de Fujian. Nessas quatro ZEEs, o governo chinês ofereceu condições favoráveis para o IED, como isenções fiscais, baixos impostos, facilidades logísticas, leis ambientais frágeis e, sobretudo, mão de obra barata e abundante. As empresas estrangeiras que se instalassem nessas ZEEs podiam operar com maior liberdade econômica, o que acelerou a chegada de capital e tecnologia internacional.
A criação das ZEEs abriu as portas para que a China se integrasse ao comércio global, transformando o país asiático em um importante exportador de produtos manufaturados. Ao longo dos anos, as ZEEs se tornaram símbolos do sucesso econômico da China, permitindo que o país se tornasse uma plataforma global de exportação de produtos industrializados.
Por exemplo, Shenzhen, uma pequena vila de pescadores, com 30 mil habitantes em 1978, transformou-se em uma megacidade, com 17,6 milhões de habitantes em 2024, com modernos arranha-céus e trens-bala mais velozes do planeta, representando o sucesso econômico das ZEEs. A cidade se tornou um dos principais centros de tecnologia do mundo, abrigando empresas gigantes como Huawei e Tencent.
A China é um dos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), cujas bandeiras e idiomas oficiais são diversos. É importante ressaltar o crescimento vertiginoso das exportações chinesas entre 1980 e 2024, que aumentou de cerca de US$ 20 bilhões em 1980 para mais de US$ 3 trilhões em 2024. Os principais produtos Made in China são brinquedos, máquinas de costura, roupas, sapatos, tecidos, televisores, ventiladores, sombrinhas, guarda-chuvas, entre outros bens industrializados como iPhones, tablets, notebooks, computadores e impressoras.
É importante destacar também que a China é um dos cinco países permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Juntamente com os EUA, França, Reino Unido (RU) e Rússia, a China possui o poder de veto sobre qualquer resolução discutida na sede da ONU, localizada em Nova York. Esses cinco países exercem uma influência significativa nas decisões sobre sérias questões globais, como os rumos da Guerra na Ucrânia ou da Guerra em Israel. Além dos membros permanentes, o Conselho de Segurança conta com dez membros não permanentes, eleitos para mandatos de dois anos. Atualmente, os países que ocupam essas vagas são Brasil, Albânia, Equador, Emirados Árabes Unidos (EAU), Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique e Suíça.
Expansão do Comércio Internacional e da Infraestrutura Logística A China investiu pesadamente em infraestrutura logística em suas províncias. Portos de classe mundial, rodovias extensas e ferrovias modernas foram construídas para facilitar o transporte e a exportação de mercadorias. Esse desenvolvimento logístico, aliada à disponibilidade de uma força de trabalho com baixos salários, ajudou a China a aumentar suas exportações de forma exponencial. Produtos com o selo Made in China passaram a dominar os mercados globais, consolidando o país como a fábrica do mundo.
Além disso, o governo chinês manteve uma política industrial ativa, canalizando recursos para setores estratégicos, como tecnologia, energia e manufatura avançada. Esse apoio foi essencial para que a China desenvolvesse suas próprias empresas e expandisse suas capacidades tecnológicas, permitindo que seus produtos chegassem a mercados nos cinco continentes.
O projeto Belt and Road Initiative (BRI), lançado em 2013, pelo líder chinês Xi Jinping é outro marco. Com investimentos de mais de US$ 1 trilhão nos últimos dez anos, a BRI, ou One Belt, One Road (em português, Um Cinturão, Uma Rota), visa melhorar as conexões logísticas entre a China e outros países da Ásia, como também, da Europa e da África, criando novas rotas comerciais no comércio internacional, ou seja, uma Nova Rota da Seda. Além disso, é relevante mencionar que, atualmente, o maior parceiro comercial da China são os EUA, já o maior parceiro comercial dos EUA é o Canadá.
A Evolução Econômica e Social da China entre 1978 a 2024 A trajetória da China nas últimas décadas é marcada por uma profunda transformação econômica e social, que levou de uma economia pobre, agrária e fechada, em 1978, para uma economia emergente, industrial e aberta ao IED em 2024. Em 1978, o PIB chinês era de aproximadamente US$ 150 bilhões, com 84% da população total de 800 milhões de habitantes vivendo em áreas rurais, dependentes da agricultura, que representava a maior parcela da economia chinesa.
Em 1 de janeiro de 1979, Deng Xiaoping foi o primeiro líder supremo da República Popular da China a visitar os EUA em busca de atrair IED. Sob a liderança de Deng Xiaoping, a China iniciava as suas reformas econômicas. Nesse ano, o governo também implementou uma política de filho único, buscando controlar o crescimento populacional, uma medida que teria implicações demográficas profundas nas décadas seguintes.
Um marco importante na abertura da economia chinesa ao capital estrangeiro foi a instalação da fábrica de refrigerantes da Coca-Cola em 1981, contribuindo para o crescimento do PIB, que alcançou US$ 289,6 bilhões. Este evento industrial simbolizou a crescente integração da China ao sistema econômico global, atraindo o IED.
A década de 1980 foi marcada por políticas tensas. Em 15 de abril de 1989, estudantes universitários se reuniram pacificamente na Praça da Paz Celestial, em Beijing, pedindo por reformas democráticas. A repressão violenta ao movimento pela democracia marcou um ponto crítico nas relações entre o governo Deng Xiaoping e os seus cidadãos, além de repercutir internacionalmente. Meses depois Xiaoping renunciava o seu cargo e designava Jiang Zemin como seu sucessor. No mesmo ano, em 9 de novembro, a queda do Muro de Berlim simbolizou mudanças significativas no cenário geopolítico global, com impactos também nas políticas da China comunista.
Em 1990, o PIB chinês saltou para US$ 360 bilhões, com o setor industrial superando o setor agropecuário em importância pela primeira vez. A criação da Shanghai Stock Exchange (SEE) nesse ano, que viria a se tornar uma das maiores bolsas de valores do planeta. Shanghai é uma megacidade chinesa com mais de 26,3 milhões de habitantes, nos dias de hoje, e tem o terceiro edifício mais alto do mundo, a Shanghai Tower, com 632 metros de altura.
O colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 26 de dezembro de 1991, teve profundas implicações geopolíticas e econômicas em todo o mundo, e a China não foi exceção. Embora a China e a URSS tenham mantido relações historicamente tensas, o fim do maior país comunista do mundo gerou preocupações no PCCh sobre a estabilidade de seu próprio regime. O colapso soviético evidenciou para a liderança chinesa os riscos de não se adaptar às mudanças globais e foi interpretado como um alerta para evitar a estagnação econômica, com o fim da Guerra Fria (Cold War).
Em 1995, o PIB chinês já havia alcançado US$ 734,5 bilhões, consolidando a China como a oitava maior economia global. O Brasil, por sua vez, ocupava a sétima posição. O crescimento econômico contínuo foi impulsionado pela expansão industrial e pela abertura gradual dos mercados chineses, que aumentou significativamente sua participação no comércio internacional.
O ano de 1999 marcou um ponto de inflexão na economia chinesa, quando a China firmou um acordo comercial com os EUA. Esse acordo bilateral adota tarifas médias de 23%, facilitando a entrada de produtos estrangeiros e acelerando as exportações chinesas. Esse movimento abriu o caminho para a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) e transformou o país asiático.
A entrada oficial da China na OMC, em 2001, foi um marco fundamental para o crescimento econômico do país. O PIB chinês saltou para US$ 1,3 trilhão, impulsionado por um aumento nas exportações de bens duráveis, que se tornou o principal motor do crescimento. A integração mais profunda com o comércio global aumentou consideravelmente a importância da China na economia mundial.
Em 2007, a China atingiu o pico de crescimento econômico com uma taxa de 14,2%, resultado de um forte impulso na produção industrial, na construção civil e na infraestrutura logística. Esse crescimento acelerado foi acompanhado de desafios relacionados ao meio ambiente e ao aumento das disparidades regionais e da desigualdade econômica.
Em 8 de agosto de 2008, a China realizou os Jogos Olímpicos de Beijing, um evento de grande magnitude que exigiu elevados investimentos em infraestrutura. Os gastos governamentais de Hu Jintao para a preparação das Olimpíadas reforçaram o papel da China no cenário internacional, consolidando a imagem de uma nação moderna. Os turistas nacionais e internacionais se encantaram com a Cidade Proibida, a Grande Muralha e o Estádio Nacional de Beijing, mundialmente conhecido por Ninho de Pássaro. Um mês depois, em 15 de setembro, iniciou a Crise de 2008, nos EUA, a Grande Recessão.
Em 16 de junho de 2009, foi formalizado o grupo econômico formado por quatro países emergentes, o BRIC (Brazil, Russia, China and India), idealizado pelo economista inglês Jim O'Neill em 2001, do banco de investimentos americano Goldman Sachs. E a primeira Cúpula do BRIC ocorreu na cidade russa de Ecaterimburgo, com a presença do líder indiano Manmohan Singh, do líder russo Dmitry Medvedev, do líder chinês Hu Jintao e do líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2010, a China ultrapassou o Japão, tornando-se a segunda maior economia do mundo, com um PIB de US$ 6 trilhões. A China consolidou-se como uma fábrica do mundo, um pilar essencial nas cadeias globais de produção industrial, e expandiu sua influência geopolítica, especialmente, na Ásia. Em abril de 2011, durante a cúpula dos chefes de Estado e de Governo, em Sanya, na China, a África do Sul ingressou no grupo BRICS (Brazil, Russia, China, India and South Africa).
Xi Jinping mudou a política do filho único na China em outubro de 2015. O governo chinês anunciou que permitiria que todos os casais tivessem até dois filhos, encerrando oficialmente a política do filho único, que estava em vigor desde 1979. A mudança foi uma resposta às preocupações com o envelhecimento da população e o impacto negativo dessa política na força de trabalho e na economia chinesa. Em 2021, o governo chinês flexibilizou ainda mais essa política demográfica, permitindo que os casais tivessem até três filhos.
Em 2018, o presidente dos EUA, Donald Trump, deu início a uma intensa Guerra Comercial (Trade War) contra a China. Esta disputa comercial envolve o aumento substancial de tarifas e impostos de importação sobre uma ampla gama de produtos chineses, com o objetivo de reduzir o déficit comercial de US$ 505,6 bilhões em 2017 com a China e combater práticas comerciais que o governo norte-americano considerava injustas, como o roubo de propriedade intelectual e o subsídio estatal as empresas chinesas.
A pandemia da COVID-19, em 2020, impactou o crescimento econômico global e a China não foi exceção. A desaceleração da taxa de crescimento do PIB chinês para 3%, a menor taxa em décadas, mas a economia ainda conseguiu se recuperar, alcançando um PIB nominal de US$ 15 trilhões. O governo chinês respondeu com pacotes de estímulo econômico e investimento em tecnologia e infraestrutura logística.
Em 1 de outubro de 2024, a República Popular da China comemorou 75 anos de fundação por Mao Tsé-Tung, na Praça Tiananmen, em Beijing. O país já se destaca em áreas como tecnologia de ponta, infraestrutura logística e energias renováveis. A China é o maior produtor mundial de energia eólica. Sim, a China é o maior produtor e exportador mundial de painéis solares.
As Reformas na Educação Durante o governo de Deng Xiaoping, que começou em 1978, a República Popular da China passou por profundas reformas econômicas e sociais, e a educação foi uma área central dessas mudanças. Deng reconheceu que o crescimento econômico sustentável exigia um sistema educacional forte para formar uma força de trabalho qualificada.
As principais ações para impulsionar a educação no governo de Deng Xiaoping incluíram as reformas no sistema educacional. O governo reintroduziu exames rigorosos para ingresso nas universidades, conhecidos como gaokao, que haviam sido interrompidos durante a Revolução Cultural. Isso incentivou a meritocracia e aumentou a competição entre os alunos.
A expansão das universidades. Deng Xiaoping buscou aumentar o número de universidades e modernizar suas instalações. Instituições de ensino superior passaram a focar em áreas críticas para o crescimento econômico, como ciências, tecnologia e engenharia.
A reintrodução do ensino técnico e vocacional. Reconhecendo a necessidade de trabalhadores qualificados em indústrias específicas, o governo incentivou a criação de escolas técnicas e programas vocacionais. Isso ajudou a formar uma força de trabalho capaz de operar na economia industrializada da China.
O estudo no exterior com bolsas. Deng incentivou o envio de estudantes chineses para estudar em universidades no exterior, principalmente nos EUA, para aprender tecnologias e conhecimentos avançados que pudessem ser aplicados no retorno à China. Muitos desses estudantes universitários desempenharam um papel crucial no surgimento de empresas modernas.
O aumento do financiamento à educação. Deng aumentou os investimentos governamentais na educação, especialmente no ensino superior e pesquisa científica, com o objetivo de modernizar e elevar a qualidade do ensino educacional no país.
Essas reformas educacionais melhoraram significativamente a China, agora, com mais de 3 mil bibliotecas públicas no país. A Biblioteca Nacional da China, em Beijing, destaca-se como uma das maiores do mundo e a maior da Ásia, com uma coleção de mais de 26 milhões de livros. Esse elevado investimento em educação foi fundamental para transformar a China na segunda maior potência econômica global no ano de 2010.
A China é um dos Motores da Economia Global A economia chinesa tem se destacado como um dos motores da economia global nas últimas décadas. As empresas chinesas Cosco Shipping tem 497 navios de carga e Changan produziu 2,6 milhões de automóveis em 2023. Segundo dados do FMI, a China registrou uma taxa média de crescimento anual do PIB de 8,9% entre 1979 e 2023. Esse desempenho impressionante consolidou o país como a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, no PIB nominal.
Em termos de PIB ajustado em dólares pela Paridade de Poder de Compra (PPC), a China é a maior economia do mundo, com um PIB de 33,71 trilhões de dólares PPC em 2023. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição no ranking mundial, com um PIB de 23,67 trilhões de dólares PPC. O Brasil aparece como a oitava maior economia do planeta, com um PIB de 4,46 trilhões de dólares PPC, conforme o FMI.
Em termos de PIB per capita PPC, a China apresenta uma renda per capita de 22.135 dólares PPC em 2023, o que a coloca entre os países em desenvolvimento, como o Brasil, com 18.554 dólares PPC, segundo o Banco Mundial. Embora seja a maior economia do mundo em termos de PIB PPC, a China ocupa a posição de 74° lugar no ranking global de renda per capita PPC, refletindo desigualdades econômicas internas e um padrão de vida mais modesto nas zonas urbanas e mais pobre nas zonas rurais.
É importante ressaltar também que a China é a maior emissora mundial de gases de efeito estufa (GEE). Diante disso, o governo chinês, as empresas e a população precisam adotar medidas urgentes para reduzir essas emissões de GEE a cada dia, aproveitando ao máximo as tecnologias mais modernas do mundo. Além disso, agora, em 22 de outubro de 2024, na XVI Cúpula do BRICS, na cidade russa de Kazan, surgirá oficialmente o BRICS Plus, com a entrada de mais cinco países emergentes, Arábia Saudita, Egito, EAU, Etiópia e Irã. Dois dos dez países membros do BRICS Plus estão entre os cinco países com maiores contingentes de pessoas pobres no mundo, a Índia com 234 milhões de pobres e a Etiópia com 86 milhões de pobres, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A China retirou 850 milhões de pessoas da pobreza nos últimos 46 anos.
Na próxima XVI Cúpula do BRICS Plus, na Rússia, o grupo econômico estará prestes a introduzir uma moeda digital global, Unit, possivelmente ancorada por uma combinação de reservas de ouro (60%) e de reservas cambiais (40%) dos 10 países membros, juntamente com a criação de um sistema de pagamento como o BRICS Pay, baseado em blockchain. Ambas têm potencial para desafiar o papel predominante do dólar norte-americano na economia mundial e do SWIFT. No entanto, prever o impacto imediato no dólar americano dependerá de diversos fatores, incluindo a adoção, confiança e estabilidade desta nova moeda digital do BRICS Plus.
Recentemente, um dólar americano alcançou o patamar de R$ 5,66 em 17 de outubro de 2024, devido à valorização cambial provocada por questões fiscais no Brasil, pelas eleições presidenciais nos EUA e por outros fatores econômicos e geopolíticos globais, como a desaceleração econômica da China e os ataques de Israel ao sul do Líbano.
A desaceleração econômica da China De acordo com a previsão econômica do FMI, no World Economic Outlook (WEO), de julho de 2024, o crescimento do PIB chinês deverá desacelerar de 5,2% em 2023, para 5,0% em 2024 e, em seguida, para 4,5% em 2025. Essa desaceleração econômica provoca sérias e rápidas decisões para o presidente Xi Jinping, que precisará enfrentar sérios desafios da economia chinesa, como o alto endividamento, forte retração do setor imobiliário, baixa taxa de natalidade, envelhecimento da população, elevada desigualdade econômica, queda do IED e as mudanças climáticas. Além disso, recentemente 40 bancos chineses faliram e foram comprados por outros bancos, maiores e estatais, como o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o maior banco do mundo e da China. Logo, a desaceleração da economia chinesa tem gerado preocupações globais, especialmente para o Brasil, pois a China é o seu maior parceiro comercial desde 2009.
Atualmente, na China, a taxa de desemprego é de 5,3% e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,788, conforme o PNUD. Além disso, os dados recentes da MoneYou mostram uma comparação entre as taxas de juros nominais e reais dos 19 países membros do G20. A Turquia, por exemplo, lidera o ranking de taxas nominais com uma taxa de 50,00%, mas cai para a 3ª posição quando se considera a taxa real, com 5,47% ao ano, devido à sua alta inflação. Já a taxa de juros nominal na China é de 3,35% ao ano (18° lugar no G20) e a taxa de juros reais é de 0,71% ao ano (14ª colocação no G20). Já a Rússia destaca-se no topo do ranking de taxas reais (9,05% ao ano) no G20, o que indica que, mesmo após o ajuste pela inflação, a taxa de juros ainda proporciona um retorno significativo sobre os investimentos.
O Papel da Inovação e Tecnologia Nos últimos quarenta e seis anos, a China passou de uma economia agrícola em 1978 para uma economia impulsionada pela inovação tecnológica em 2024. O PIB chinês cresceu de US$ 150 bilhões em 1978 para US$ 18,5 trilhões em 2024, porque o governo chinês investiu em setores como inteligência artificial (IA), 5G, startups, e energias renováveis, tornando-se líder global em várias áreas tecnológicas.
Empresas chinesas como Alibaba, BYD, Xiaomi, Lenovo e Tencent se destacam como símbolos dessa nova fase do desenvolvimento chinês. De acordo com o Global Innovation Index (GII), em 2024, a China está entre as nações mais inovadoras do mundo, posicionando-se entre os 15 países com os melhores GII, exatamente na 11ª posição, enquanto em 2010 ocupava a 43ª posição.
Na China, já é possível realizar o pagamento de bens e serviços em yuans utilizando apenas a palma da mão, vinculado ao aplicativo Wechat, graças aos avanços tecnológicos promovidos por empresas de ponta, como a Tencent, sediada na cidade de Shenzhen, com mais de 100 mil funcionários e muitos robôs trabalhando na província de Guangdong. Shenzen está 812 km de distância de Taipé, a capital de Taiwan.
Tensão entre China e Taiwan Volta a Crescer Nos últimos dias, a relação entre a China e Taiwan têm-se deteriorado rapidamente, culminando num clima de tensão crescente na Ásia. Na atualidade, aviões e navios de guerra chineses estão circulando a ilha após atos de independência taiwanesa. A China considera Taiwan uma província rebelde sob a sua jurisdição, tem intensificado a sua presença militar no Estreito de Taiwan. A situação se agravou após o aumento de movimentos em prol da independência de Taiwan, com 24 milhões de habitantes, buscando reconhecimento internacional e apoio de potências ocidentais como os EUA e o RU.
Taiwan é considerado um dos Quatro Tigres Asiáticos. Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan passaram por um processo de rápida industrialização e alcançaram taxas de crescimento econômico superiores a 7% ao ano entre 1960 e 1996. No entanto, no ano seguinte, em 1997, aconteceu a crise financeira dos Tigres Asiáticos.
A economia mundial vem enfrentando sérios impactos com as guerras em andamento, como a Guerra na Ucrânia e a Guerra em Israel. Esses conflitos armados na Europa e no Oriente Médio estão causando danos substanciais às cadeias de suprimentos globais, gerando instabilidade nos mercados de commodities e promovendo uma crise humanitária de proporções imensuráveis. Uma guerra nova e estúpida, desta vez no leste da Ásia, envolvendo a China, a líder mundial na produção de veículos elétricos, e Taiwan, o maior fabricante de semicondutores do planeta, poderá agravar os problemas econômicos vigentes e terão consequências devastadoras para a economia global.
Considerações Finais Finalizando, os cinco líderes supremos da República Popular da China, Mao Tsé-tung (1949-1976), Deng Xiaoping (1978-1989), Jiang Zemin (1989-2002), Hu Jintao (2002-2012) e Xi Jinping (2012 até os dias atuais), lamentavelmente, optaram por destinar bilhões de yuans à produção de 350 ogivas nucleares desde o primeiro teste de bomba atômica, realizado em 16 de outubro de 1964, no Deserto de Lop Nor. Esses enormes gastos governamentais com armas atômicas, ao longo de seis décadas, poderiam ter sido direcionados para alimentar as crianças pobres que morreram de fome nesse mesmo período.
A evolução do modelo econômico chinês transformou o país em uma potência econômica global, graças à liderança visionária de Deng Xiaoping e a implementação de políticas pragmáticas, como a criação das ZEEs, que lançaram as bases para o rápido e robusto crescimento econômico. Este ano, na China, comemora-se os 120 anos de nascimento de Deng Xiaoping, o Arquiteto Chefe das Reformas, na província oriental de Sichuan. Ele nasceu em 22 de agosto de 1904, em Guang'an, hoje, com mais de 3,2 milhões de habitantes, e um dos seus pontos turísticos é o Deng Xiaoping Memorial Hall.
Hoje, a China é o país com as maiores reservas internacionais do planeta (US$ 3,63 trilhões), o maior produtor agrícola do mundo (US$ 1,14 trilhão) e o maior exportador mundial de mercadorias. É a maior fábrica do mundo e na fase de transição para ser o maior shopping center do planeta. A maior usina hidrelétrica do mundo é a de Três Gargantas, no Rio Yangtze, e o segundo maior aeroporto do planeta é o da cidade de Beijing. Hoje, o governo chinês divulgou que o PIB da China cresceu 4,6% no terceiro trimestre de 2024, todavia, abaixo da taxa de crescimento médio anual de 6,7% no período de 2010 e 2023.
Em suma, essa combinação de abertura ao comércio global, investimentos massivos em infraestrutura logística e na construção civil, apoio à Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e uma política industrial exportadora explicam como a China se tornou a segunda maior economia do mundo. A história de ascensão da milenar China, o dragão asiático, nos últimos 46 anos, oferece lições valiosas de planejamento estratégico, adaptação econômica e inovação tecnológica em plena Quarta Revolução Industrial.
(*) Economista brasileiro, autor de 18 livros de Economia, conselheiro efetivo do CORECON-PB, diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, palestrante e apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência na capital paraibana. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221. Novo e-book: “
A Importância do Canadá no G7 e G20”:
https://paulogalvaojunior.com.br/canada/