Fonte: Portal North News. Considerações Iniciais
Uma particularidade do debate sobre os rumos da economia mundial é o papel do BRICS (Brazil, Russia, India, China, and South Africa) na atualidade. A Cúpula do BRICS em 2025, marcada para julho no Rio de Janeiro, será um momento estratégico para consolidar o grupo econômico no cenário global. Atualmente, é formado por dez países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Etiópia, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Indonésia.
É preciso destacar que a Arábia Saudita ainda não aderiu oficialmente ao grupo BRICS. Hoje, os nove países parceiros do BRICS são Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e, agora, Nigéria. Os dez países membros e os nove países parceiros integram conjuntamente o BRICS Plus, uma iniciativa que busca ampliar a cooperação entre nações emergentes do Sul Global e fortalecer os laços econômicos e sociais no cenário global.
Os Principais Indicadores do BRICS na Atualidade
O BRICS constitui uma força geopolítica de destaque na economia global. No Brasil, assim como nos demais países membros do grupo, os principais indicadores servem como referência para avaliar o desempenho e o potencial de suas economias emergentes. Esses cinco indicadores no Quadro 1 destacam o papel estratégico do grupo na promoção do crescimento econômico e da representatividade de mercados em desenvolvimento no cenário global:
País | PIB Nominal (US$ trilhões em 2023) | População Total (bilhões de hab. em 2024) | Área Territorial (milhões de km2) | IDH (em 2022) | Exportações (US$ trilhões FOB em 2023) |
China | 19,3 | 1,425 | 9,640 | 0,788 | 3,70 |
Índia | 3,5 | 1,441 | 3,287 | 0,644 | 0,45 |
Brasil | 2,1 | 0,217 | 8,515 | 0,760 | 0,33 |
Rússia | 2,0 | 0,143 | 17,098 | 0,821 | 0,50 |
Indonésia | 1,4 | 0,279 | 1,904 | 0,713 | 0,25 |
EAU | 0,5 | 0,009 | 0,083 | 0,937 | 0,25 |
Egito | 0,4 | 0,109 | 1,001 | 0,728 | 0,04 |
Irã | 0,3 | 0,087 | 1,648 | 0,780 | 0,03 |
África do Sul | 0,3 | 0,059 | 1,221 | 0,717 | 0,10 |
Etiópia | 0,1 | 0,129 | 1,104 | 0,492 | 0,01 |
BRICS | 29,9 | 3,898 | 45,501 | 0,738 | 5,66 |
Quadro 1: Indicadores dos Países Membros do BRICS na Atualidade. Fontes: FMI, ONU e PNUD. |
O BRICS é um grupo econômico que reflete a diversidade econômica, social, política e cultural de dez nações emergentes. Juntos, os países somam 3,898 bilhões de habitantes (45% da população mundial), 45,501 milhões de km² de área territorial (30,5% da área terrestre da Terra), um Produto Interno Bruto (PIB) total de US$ 29,9 trilhões (38% do PIB global) e as exportações totais de US$ 5,66 trilhões Free on Board (FOB), além disso, representam um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto de 0,738.
O Brasil, anfitrião da XVII Cúpula do BRICS, está entre as três maiores economias do grupo, com um PIB nominal de US$ 2,1 trilhões, uma população de 217 milhões de habitantes e uma vasta área territorial de 8,5 milhões de km². O país sul-americano é estratégico no fornecimento de commodities e na liderança de debates sobre segurança alimentar global, segurança energética mundial e segurança climática internacional.
É preciso ressaltar que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, contribuindo para a segurança alimentar global. O Brasil alimenta mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, exportando alimentos (soja, milho, carne bovina, carne de frango, açúcar, suco de laranja, etc.) para países na América, África, Ásia, Europa e Oceania.
O Brasil é um dos líderes mundiais em energia renovável, contribuindo para a transição energética global. Cerca de 84% da matriz elétrica brasileira é composta por fontes renováveis, como energia hidrelétrica, eólica, solar e biomassa. O Brasil é líder global na produção de etanol oriundo da cana-de-açúcar e pioneiro no uso de biodiesel, promovendo alternativas aos combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral).
É evidente que o Brasil desempenha um papel central na segurança climática internacional, graças à sua rica biodiversidade e vastos recursos naturais. A Amazônia, que é a maior floresta tropical do planeta, tem cerca de 60% de sua área localizada em território brasileiro. A Amazônia desempenha um papel crucial na regulação do clima global, além de atuar como um dos maiores reservatórios de carbono do mundo, ajudando a mitigar os impactos das mudanças climáticas. O rio Amazonas, que possui o maior volume de água do planeta, também desempenha um papel essencial na manutenção do ciclo hidrológico global e na preservação dos ecossistemas locais.
Do ponto de vista econômico, a China lidera o grupo com o maior PIB (US$ 19,3 trilhões). A China tem o segundo maior território entre os membros (9,6 milhões de km²) e a segunda maior população (1,425 bilhão de hab.) do BRICS e do planeta.
A China desempenha um papel dominante nas exportações do BRICS, sendo responsável por mais de 70% do total exportado pelo grupo. Este desempenho é impulsionado por sua ampla base industrial e capacidade de produção em larga escala. Os principais produtos exportados pela China são eletrônicos, máquinas, automóveis, têxteis, painéis solares e produtos químicos, que atendem tanto a mercados emergentes quanto a economias desenvolvidas. Além disso, a competitividade chinesa é reforçada por cadeias de suprimentos integradas, inovação tecnológica e parcerias comerciais estratégicas.
A Índia, com a maior população do BRICS e do mundo, totalizando 1,441 bilhão de habitantes, reafirma o protagonismo das economias asiáticas. Seu PIB nominal é de US$ 3,5 trilhões, posicionando a maior democracia do planeta como uma força econômica emergente no cenário global.
Atualmente, a segunda maior economia do BRICS e a quinta maior economia do mundo é sustentada por três pilares econômicos: i) Setor de serviços, que responde por 55% do PIB indiano, com destaque para áreas como tecnologia da informação (TI), telecomunicações e serviços financeiros; ii) Indústria, com forte presença em manufatura, energia e infraestrutura logística, contribuindo com 27% do PIB; e iii) Agricultura, embora com menor participação no PIB (18%), continua empregando uma grande parte da população indiana e contribuindo com as exportações de arroz, trigo, chá e especiarias.
A Indonésia fortalece o grupo com sua economia de US$ 1,4 trilhão e um território de 1,9 milhão de km², além de uma população total de 279 milhões de habitantes. A Indonésia é a quarta maior população do planeta e a oitava maior economia do mundo em termos de PIB ajustado pela Paridade do Poder de Compra (PPC), além de maior população e de maior economia do Sudeste Asiático. Entre o grupo BRICS, a Indonésia é o terceiro país mais populoso e a quarta nação mais rica.
Países como Rússia, com vasta extensão territorial (17,0 milhões de km²), desempenha papel estratégico no fornecimento de commodities minerais, agrícolas e energéticas. A Rússia por ser o maior país do mundo e do BRICS é um dos líderes nas exportações mundiais de trigo, cevada, milho, centeio, aveia, petróleo, gás natural, carvão, cobre, minério de ferro, paládio, titânio e níquel.
O IDH alto do BRICS, 0,738, reflete o desafio de equilibrar crescimento econômico com inclusão social. Países como EAU (0,937) destacam-se positivamente com IDH muito alto, enquanto, a Etiópia (0,492) evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento humano, com IDH baixo. A Rússia tem o segundo melhor IDH do BRICS, com IDH de 0,821 em 2022, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Já a Índia tem IDH médio de 0,644 e encontra-se na nona colocação do grupo.
Atualmente, entre os dez países mais populosos do mundo, seis são membros do BRICS: Índia (1,441 bilhão de habitantes), China (1,425 bilhão), Indonésia (279 milhões), Brasil (217 milhões), Rússia (143 milhões) e Etiópia (129 milhões), de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Por outro lado, o país menos populoso do grupo BRICS é os EAU, com apenas 9 milhões de habitantes.
A XVII Cúpula do BRICS 2025 no Rio de Janeiro
Durante a XVII Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, o Brasil terá como tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. O Brasil buscará abordar questões centrais, como transição energética, segurança alimentar e inclusão socioeconômica. Um dos principais debates será o uso de moedas nacionais no comércio internacional entre os dez países-membros, visando reduzir a dependência do dólar americano, a moeda mais importante da economia mundial.
Outro destaque será a ampliação do papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com sede em Xangai, na China, cuja missão é apoiar projetos sustentáveis e promover o crescimento inclusivo nos países emergentes do BRICS+. Com pensamento estratégico de um mundo multipolar, a economista, ex-presidente do Brasil e presidente do NDB, Dilma Rousseff, já criticou o “uso do dólar como arma”.
Além disso, espera-se que a XVII Cúpula do BRICS impulsione a discussão sobre a ampliação do grupo. A entrada de novos membros em 2023 já demonstrou o compromisso do grupo econômico em se tornar mais representativo e eficaz. O Brasil poderá aproveitar a oportunidade para propor parcerias estratégicas e atrair investimentos estrangeiros diretos (IEDs) em segmentos como infraestrutura logística, TI, energias renováveis, turismo e agropecuária.
A presidência rotativa do Brasil no BRICS em 2025 poderá enfrentar sérios desafios devido à postura do presidente eleito dos EUA, o republicano Donald Trump. Questões como a desdolarização da economia mundial e as propostas de reformas em instituições financeiras internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, estão no centro das discussões do BRICS para impulsionar o crescimento das economias emergentes.
Donald Trump e as ameaças ao BRICS
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América (EUA) entre 2017 e 2021, marcou seu governo pela política protecionista America First e pela guerra comercial com a China. Agora, às vésperas do retorno à Casa Branca, em Washington, D.C., Trump voltou a criticar o BRICS. Ele ameaçou impor tarifas de até 100% sobre importações de países membros do grupo, caso avancem em iniciativas que desafiem o domínio global do dólar americano, como o uso de moedas nacionais no comércio internacional ou a criação da moeda do BRICS.
Curiosamente, o Brasil alcançou um total de US$ 339 bilhões FOB em exportações durante 2023, com os EUA figurando como o segundo maior parceiro comercial, evidenciando a importância das relações econômicas entre essas duas nações do continente americano. No entanto, as ameaças do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, antes mesmo de sua posse, podem trazer grandes mudanças nesse cenário de comércio exterior.
Nessa altura da discussão, Trump vê o fortalecimento do BRICS, sob a liderança rotativa do presidente brasileiro Lula, como uma ameaça direta à hegemonia econômica dos EUA, especialmente, em um contexto de multipolaridade crescente e expansão das economias emergentes do Sul Global, como a China.
A República Popular da China já ultrapassou os EUA em PIB ajustado pela PPC, de acordo com o FMI. Em outubro de 2024, o PIB da China alcançou 33,1 trilhões de dólares PPC, enquanto o dos EUA foi de 29,2 trilhões de dólares PPC. Mas, no PIB nominal, a China é a segunda maior economia do mundo, com US$ 19 trilhões em 2023, atrás apenas dos EUA, com US$ 29 trilhões.
No dia 20 de janeiro de 2025, os rumos dos EUA, e consequentemente do mundo, poderão mudar drasticamente. Isso porque Donald Trump poderá adotar medidas com potencial para impactar tanto a economia americana quanto a geopolítica global. Suas ações possíveis em áreas como economia, imigração, meio ambiente, comércio internacional e alianças internacionais poderão influenciar de forma decisiva os desdobramentos da Guerra na Ucrânia e da Guerra em Israel (mais de 48 mil mortos), e já estamos comemorando o cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
Sinceramente, hoje, muita preocupação com as propostas do bilionário Donald John Trump sobre os rumos do Canadá, da Groelândia e do Canal do Panamá. As ameaças expansionistas do 47° presidente dos EUA a partir de 20 de janeiro serão sentidas a cada dia até o final do ano de 2025. Serão quatro anos em que o mundo inteiro passará por fortes e rápidas mudanças, como um novo cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia e os imigrantes ilegais nos EUA retornando para o México.
Considerações Finais
Em suma, a XVII Cúpula dos BRICS de 2025, no Rio de Janeiro, será um marco para reafirmar a relevância do grupo no cenário internacional. Os indicadores revelam um grupo capaz de moldar decisões globais em temas como desenvolvimento sustentável, segurança energética e segurança alimentar. Os EAU, Egito, Etiópia, África do Sul e Irã têm as menores áreas territoriais e as menores populações do grupo, mas são estrategicamente relevantes em seus continentes.
Com o Brasil na presidência rotativa do BRICS, espera-se que a Cúpula no Rio de Janeiro reforce a cooperação econômica e diplomática, promovendo uma agenda voltada ao progresso coletivo. Este será um momento para destacar a capacidade do grupo econômico em promover um mundo multipolar, equilibrado, próspero, justo, sustentável e pacífico.
Enfim, o BRICS desempenhará um papel decisivo no enfrentamento de dois dos maiores desafios do século XXI: as mudanças climáticas e a elevada desigualdade econômica.
(1) Economista brasileiro, conselheiro do CORECON-PB e autor de 18 e-books de Economia. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.