Fonte: Portal North News. Considerações Iniciais
Estimado(a) leitor(a) lusófono(a) do Portal North News, o Canadá enfrenta um cenário econômico desafiador em 2025. A queda de 2,49% nos últimos 30 dias do Toronto Stock Exchange (TSX), índice da Bolsa de Valores de Toronto, reflete a perda de confiança dos investidores no mercado canadense. Paralelamente, a redução dos preços do barril de petróleo tipo Brent impacta negativamente a economia do país, uma vez que o setor energético é um dos pilares fundamentais do Produto Interno Bruto (PIB) canadense.
Além disso, a desvalorização do dólar canadense (CAD) em relação ao dólar americano encarece as importações, pressiona a inflação e reduz o poder de compra da população canadense. Esses fatores econômicos, em conjunto, elevam as preocupações sobre uma possível recessão, tema amplamente debatido na mídia canadense por veículos como BNN Bloomberg, Financial Post, Global News, Times Radio e CBC News.
Tecnicamente, uma recessão ocorre quando há dois trimestres consecutivos de queda no PIB de um país. Seus impactos econômicos mais evidentes incluem o aumento do desemprego, a desaceleração da produção industrial, a retração do consumo das famílias e a diminuição das exportações do agronegócio.
Os Impactos das Tarifas Protecionistas dos EUA
A guerra comercial começou com a imposição de tarifas de 25% sobre importações de produtos canadenses pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, que representa uma séria ameaça à economia canadense. O aumento dos custos de exportação para os EUA – maior parceiro comercial do Canadá – pode gerar uma redução na produção industrial, atingindo setores estratégicos de bens de consumo duráveis, como o automotivo, siderúrgico e de eletrodomésticos.
Economistas alertam que essas tarifas protecionistas podem desencadear a falência de fábricas e a eliminação de milhares de postos de trabalho em todas as províncias canadenses. Estudos indicam que os impactos dessas medidas poderão provocar uma recessão econômica no ano de 2025.
Diante das dificuldades econômicas, cresce a insatisfação popular com as políticas fiscais do governo federal. O movimento Axe the Tax (Abolir la Taxe, em francês) tem ganhado força, contestando a elevada carga tributária e questionando a interferência governamental na economia canadense.
Além disso, há uma crescente rejeição à ideia de que o Canadá, o segundo maior país do mundo, poderia ser anexado aos EUA como o 51º estado americano – uma estúpida intenção de Donald Trump – uma ameaça à soberania nacional, gerando forte repúdio nas dez províncias canadenses (Alberta, British Columbia, Manitoba, New Brunswick, Newfoundland and Labrador, Nova Scotia, Ontario, Prince Edward Island, Quebec and Saskatchewan) e nos três territórios canadenses (Northwest Territories, Nunavut and Yukon).
Recentemente, o Canadá tem um novo primeiro-ministro, Mark Carney, economista canadense de destaque e vasta experiência no Banco do Canadá, Banco da Inglaterra, Goldman Sachs e Brookfield Asset Managemet. O premier canadense Mark Carney já realizou viagens à França e ao Reino Unido (RU) e promoveu a primeira reunião com os premiers das dez províncias canadenses, em Ottawa, a capital do país. Como líder do Partido Liberal e do governo, o primeiro-ministro Mark Carney solicitou a Mary Simon, a governadora-geral do Canadá, a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições gerais, marcadas para o dia 28 de abril de 2025.
Indicadores-chave do Canadá na Atualidade
O presente artigo apresenta uma análise de 15 indicadores-chave do Canadá na atualidade, como o PIB nominal, PIB per capita, população estimada, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), taxa de desemprego, taxa de juros, taxa de crescimento do PIB real per capita, balança comercial de bens, proporção de pessoas com 65 anos ou mais de idade, taxa de pobreza, taxa de alfabetização, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), esperança de vida ao nascer, média de anos de escolaridade e anos futuros de escolaridade:
Quadro 1. Indicadores-chave do Canadá na atualidade. |
Indicadores-chave | Canadá |
PIB nominal | US$ 2,2 trilhões |
PIB per capita | US$ 53.431 |
População estimada | 41,5 milhões de hab. |
Índice de preços ao consumidor | 2,6% |
Taxa de desemprego | 6,6% |
Taxa de juros | 2,75% a.a. |
Taxa de crescimento do PIB real per capita | 0,6% |
Balança comercial de bens | US$ 4,0 bilhões |
Proporção de pessoas com 65 anos ou mais | 18,9% |
Taxa de pobreza | 7% |
Taxa de alfabetização | 99,7% |
IDH | 0,935 |
Esperança de vida ao nascer | 82,8 anos |
Média de anos de escolaridade | 13,9 anos |
Anos futuros de escolaridade | 16,0 anos |
Fontes: OCDE, FMI, Statistics Canada, BoC e PNUD. |
Atualmente, o Canadá é a nona maior economia do mundo, com um PIB nominal de US$ 2,2 trilhões em 2024, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Canadá ocupa também o 18° lugar na economia global, com um PIB per capita de mais de US$ 53 mil em 2023 e tem alto padrão de vida.
De acordo com a Statistics Canada, a população estimada do Canadá é de 41,5 milhões de habitantes em 1 de janeiro de 2025. O Canadá vem crescendo a sua população a cada ano e o crescimento populacional acelerou devido o aumento da imigração legal, impactando positivamente no mercado de trabalho e na demanda agregada interna.
O multicultural Canadá enfrenta desafios com a taxa de inflação, medida pelo IPC, que subiu 2,6% em fevereiro de 2025, superando as previsões iniciais. O IPC continua pressionado pela desvalorização do dólar canadense e pelas tarifas protecionistas dos EUA, o país mais rico do mundo. O preço do aluguel e dos alimentos subiram e provocaram a diminuição do poder de compra das famílias canadenses.
A taxa de desemprego atingiu 6,6% em fevereiro de 2025, refletindo o impacto negativo da guerra comercial e da desaceleração do setor manufatureiro. O desemprego poderá crescer com o encerramento de atividades econômicas no setor industrial, no setor de energia e no setor de serviços.
O Bank of Canada (BoC), o banco central do país, reduziu sua taxa básica de juros para 2,75% ao ano, buscando estimular a economia e evitar um colapso financeiro. No entanto, essa estratégia apresenta desafios. Embora a redução dos juros possa incentivar o consumo das famílias e os investimentos das empresas, a consequente desvalorização do dólar canadense encarece os bens importados, alimentando pressões inflacionárias.
O governador do Banco do Canadá, o economista canadense Tiff Macklem, reconheceu que a instituição financeira precisará adotar uma abordagem flexível e adaptável para lidar com as incertezas econômicas. O risco de uma recessão dependerá do impacto das tarifas dos EUA e da capacidade de resiliência do mercado interno canadense.
A baixa expansão econômica reflete um crescimento pífio da produtividade por trabalhador e da renda das famílias canadenses, com um incremento de apenas 0,6% no quarto trimestre de 2024, conforme dados da Statistics Canada.
O Canadá registrou um superávit comercial de US$ 4 bilhões em janeiro de 2025. No entanto, esse fraco desempenho foi impactado pela redução da competitividade das exportações canadenses, especialmente para os EUA. Setores como o do aço e do alumínio foram particularmente afetados, devido a fatores como variações cambiais, custos de produção e as tarifas comerciais de 25%.
Entre os principais produtos exportados pelo Canadá destacam-se: i) Petróleo e gás. O Canadá é um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, com os EUA como principal destino; ii) Minérios (incluindo ouro, níquel, cobre e potássio). Commodities essenciais para a indústria global, com forte presença no mercado asiático; iii) Produtos agropecuários (trigo, canola, carnes bovina e suína). Commodities exportadas principalmente para os EUA, China e Japão; iv) Veículos e autopeças. Grande parte da produção automóvel canadense é integrada à cadeia de suprimentos da América do Norte; v) Madeira e papel. O Canadá é um dos maiores produtores e exportadores globais de madeira serrada e celulose; e vi) Aço e alumínio. O Canadá é o maior exportador de aço, responsável por 6 milhões de toneladas para os EUA e de alumínio, sendo responsável por 50% do alumínio exportado para o vizinho, os EUA.
Com menos exportações canadenses, as empresas terão que diminuir significativamente sua produção, o que acarretaria cortes de funcionários e diminuição dos lucros. Infelizmente, os EUA desrespeitam o acordo de livre comércio assinado no Canada-US-Mexico Agreement, também chamado de CUSMA.
A proporção de idosos na população canadense atingiu 18,9% em 1 de julho de 2024, aumentando os custos com previdência e assistência social. Com certeza, o envelhecimento populacional pressiona o sistema previdenciário canadense e reduz a força de trabalho disponível.
Os desafios sociais são agravados pelo aumento no IPC, mas, o Canadá tem uma baixa taxa de pobreza, com apenas 7% da população canadense inserida na pobreza absoluta. Já sua taxa de alfabetização é muito elevada, com 99,7%, ou seja, nível educacional muito alto.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Canadá tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito alto, IDH de 0,935 no ano de 2022, revelando uma elevada qualidade de vida e encontra-se na 18ª colocação no ranking mundial do IDH e no primeiro lugar no ranking das Américas. A expectativa de vida ao nascer dos canadenses é 82,2 anos em 2022, revelando uma elevada esperança de vida e altos custos previdenciários.
Na educação, o bilíngue Canadá, se destaca com população bem instruída, impulsionando a inovação e a tecnologia, com enorme potencial para o desenvolvimento sustentável, pois seus indicadores educacionais são elevados, como 13,9 anos na média de anos de escolaridade, conforme o PNUD.
Fatores Contribuintes para uma possível Recessão em 2025 no Canadá
O Canadá já enfrentou recessões econômicas em várias ocasiões ao longo de sua história econômica, por exemplos, nos anos de 1930, 1933, 1974, 1982, 1991, 2008 e 2020. Atualmente, a possibilidade de uma recessão em 2025 se tornou uma preocupação crescente, impulsionada por uma série de fatores econômicos e políticos que geram incertezas no país. Esses fatores são: i) a guerra comercial com os EUA; ii) a política monetária expansionista do Banco do Canadá; iii) as previsões econômicas; iv) a redução da imigração; e v) a queda da confiança do consumidor.
A guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, com a imposição de tarifas sobre produtos canadenses, ameaça desestabilizar a economia canadense. As tarifas protecionistas aumentam os custos de produção e prejudicam a competitividade de vários setores-chave, como o automotivo e siderúrgico. A elevação dos preços ao consumidor e o aumento do desemprego podem contribuir para a desaceleração do crescimento do PIB, potencialmente conduzindo o país a uma recessão em 2025.
Embora a relação comercial entre os dois países da América do Norte seja fundamental para o Canadá, a imposição de tarifas dificulta o comércio bilateral, levando a uma diminuição da produção, da exportação e do consumo interno. A dependência do Canadá do mercado dos EUA para exportações gera vulnerabilidades, caso a guerra comercial se intensifique.
Em resposta às incertezas econômicas e à pressão inflacionária gerada pelas tarifas comerciais dos EUA, o Banco do Canadá adotou uma política monetária expansionista. A redução da taxa básica de juros de 3,0% para 2,75% ao ano foi uma tentativa de estimular a economia e reduzir os custos de financiamento. No entanto, essa medida tem limitações, especialmente quando as pressões inflacionárias estão em alta devido aos custos mais elevados de importação e à menor competitividade interna.
Além disso, a necessidade de manter um equilíbrio entre estimular a economia e controlar a inflação exige que o Banco do Canadá seja mais flexível e ágil em suas ações, adaptando-se às mudanças nas condições econômicas globais e domésticas.
A projeção econômica para o Canadá indica um crescimento do PIB de 2% no ano de 2025, de acordo com o FMI. A previsão econômica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta um crescimento do PIB canadense de apenas 0,7% em 2025, sinalizando uma desaceleração econômica. A falta de crescimento robusto é um sinal preocupante, especialmente em tempos de instabilidade econômica externa e incertezas políticas internas.
Além disso, uma pesquisa recente do Bank of Montreal (BMO), uma das maiores instituições financeiras do Canadá, revelou que 63% dos canadenses temem uma recessão (récession, em francês) em 2025. É uma estatística que destaca a ansiedade pública em relação ao futuro econômico do país e a percepção generalizada de que a recessão (recession, em inglês) é iminente, e pode por si só, criar consumidores e investidores mais cautelosos em suas decisões de gasto e investimento.
Outro fator que pode contribuir também para uma recessão no Canadá em 2025 é a redução da imigração legal, que tem sido um motor importante do crescimento econômico do país. A desaceleração da entrada de imigrantes legais pode enfraquecer o mercado de trabalho, já que os imigrantes desempenham papéis essenciais nos três setores da economia canadense.
A redução do número de imigrantes legais pode também afetar a inovação e a competitividade do país, já que muitos imigrantes contribuem também para setores de alta tecnologia e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Essa limitação no crescimento da força de trabalho pode impactar negativamente as perspectivas econômicas a longo prazo, prejudicando a capacidade do Canadá de manter um ritmo de crescimento sustentável em plena Quarta Revolução Industrial.
A confiança do consumidor canadense, essencial para a estabilidade da economia, também está em declínio. A incerteza quanto ao futuro econômico tem gerado uma diminuição no consumo das famílias, com impacto direto em setores como o varejo e serviços. Quando os consumidores se tornam mais cautelosos com seus gastos, o efeito negativo sobre a demanda agregada pode agravar a desaceleração econômica, criando um ciclo de contração mais profundo.
A queda da confiança do consumidor pode ser exacerbada por fatores como o aumento do custo de vida, incertezas sobre o emprego e um ambiente de negócios instável. Isso pode resultar em um aumento nas taxas de poupança, mas também em uma redução do investimento, prejudicando o crescimento do PIB canadense. A taxa de crescimento econômico do Canadá foi de 1,5% em 2023 e 1,3% em 2024, de acordo com o FMI.
Em resumo, o Canadá enfrenta um conjunto de desafios econômicos que tornam a previsão de uma recessão em 2025 cada vez mais provável. A guerra comercial com os EUA, a resposta limitada do Banco do Canadá, o crescimento econômico abaixo do esperado, a redução da imigração e a queda na confiança do consumidor formam um cenário desafiador que exige uma gestão econômica cuidadosa e uma adaptação rápida às novas realidades globais.
Considerações Finais
Finalizando, o Canadá está em um momento econômico crítico em 2025 e ao mesmo tempo será o país anfitrião da próxima Cúpula do Grupo dos Sete (G7). Diante do cenário atual, o risco de uma recessão ainda não está definido, mas os sinais de desaceleração são evidentes. A trajetória da economia canadense exigirá cautela, planejamento estratégico e um forte compromisso com a soberania econômica nacional.
Embora não seja possível afirmar com certeza que o Canadá enfrentará uma recessão em 2025, os indicadores-chave sugerem uma desaceleração econômica. A combinação de fatores internos e externos – queda do índice TSX, desvalorização do dólar canadense, tarifas protecionistas dos EUA e instabilidade política – coloca a economia canadense sob forte pressão.
A capacidade do Canadá de atenuar esses enormes desafios dependerá de políticas econômicas eficazes e da resolução das tensões comerciais atuais, e, sobretudo, a colaboração entre governos federal e provinciais, empresas, cooperativas, ONGs, universidades e cidadãos, sim, será essencial para mitigar os impactos negativos e garantir a resiliência da economia canadense. Vive le Canada!
(1) Economista brasileiro. WhatsApp: +55 (83) 98122-7221.