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10/09/2022 às 15h13min - Atualizada em 10/09/2022 às 15h08min

O NOVO RELATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

https://www.agorasudoeste.com.br/
No dia 8 de setembro de 2022, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançou e divulgou a nível mundial The Human Development Report 2021/2022 (em português, O Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022), com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 191 países, em cinco continentes.

Desde 1990, o PNUD, relevante órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), mensura o bem-estar da população em termos de saúde, educação e renda. O IDH varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, melhor o desenvolvimento humano do país. E o IDH foi idealizado por dois economistas asiáticos, o paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998) e o indiano Amartya Sen (1933-), "o Prêmio Nobel de Economia em 1998 por suas contribuições para a economia do bem-estar, em especial nos países em desenvolvimento" (MACHADO, 2019, p. 313).

Os países ao redor do mundo são divididos em países de IDH baixo (de 0 a 0,549), de IDH médio (de 0,550 a 0,699), de IDH alto (de 0,700 a 0,799) e de IDH muito alto (de 0,800 a 1). Nos dias atuais, é muito importante ler e reler o novo Relatório de Desenvolvimento Humano, do PNUD.

Com os impactos da pandemia da COVID-19 sobre a saúde, mensurada pela esperança de vida ao nascer; a educação, mensurados pela média de anos de escolaridade e pelos anos esperados de escolaridade; e a renda, avaliada pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita, em dólares internacionais, expressa em paridade de poder de compra (PPC), o IDH mundial cai por dois anos consecutivos pela primeira vez em 32 anos.

A Suíça, com IDH de 0,962 em 2021, é o país de maior IDH do mundo e da Europa. Enquanto, o Sudão do Sul, com IDH de 0,385, é o pior IDH do planeta e da África, segundo o PNUD.

O PNUD constatou também 66 países com IDH muito alto (34,56% do total), seleto grupo de países com melhor qualidade de vida e liderados pela Suíça (0,962) até a Tailândia (0,800). Entre os 49 países com IDH alto (25,65% do total) verificou-se a liderança da Albânia (0,796) até o Vietnã (0,703). E o Brasil é uma das nações integrantes do grupo de IDH alto.

Observa-se que no grupo dos 44 países com IDH médio (23,04% do total), as Filipinas lideram com IDH de 0,699 e na última colocação deste grupo, encontra-se a Costa do Marfim, com IDH de 0,550 em 2021. Já entre os 32 países com IDH baixo (16,75% do total), este grupo é liderado pela Tanzânia com IDH de 0,549 e na última posição do grupo, do mundo e da África, o Sudão do Sul, com IDH de 0,385.

Entre os cinco continentes, nos extremos opostos no IDH de 2021, é possível observar que o melhor IDH na Europa é a Suíça (0,962); na Ásia, é a ilha de Hong Kong (0,952); na Oceania, é a Austrália (0,951); na América, é o Canadá (0,936); e na África, é Maurício (0,802).

É possível verificar que na Europa, o Velho Mundo, o melhor IDH é o da Suíça (0,962) e o pior IDH é o do Azerbaijão (0,745). E o Azerbaijão foi uma das repúblicas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), é um país independente da ex-URSS (hoje, Rússia, com IDH muito alto de 0,822) e que ruma com sérias dificuldades na transição de economia planificada para a economia de mercado desde 18 de outubro de 1991.

No mais extenso, mais populoso e mais rico continente, a Ásia, o melhor IDH é o de Hong Kong (0,952) e o pior IDH é o do Iêmen (0,455). O Iêmen é um dos países árabes em guerra civil desde 2015 e encontra-se no 183° lugar no ranking global. “A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Iêmen como a pior situação humanitária do mundo. O conflito já gerou 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates” (BBC NEWS BRASIL, 2022).

Na Oceania, o Novíssimo Mundo, o melhor IDH é o da Austrália (0,951) e o pior IDH é o de Papua-Nova Guiné (0,558), ambos, encontram-se no 5° lugar e no 156° lugar no ranking mundial, respectivamente, de acordo com o PNUD. E Papua-Nova Guiné é a segunda maior ilha do continente, atrás apenas da Austrália, sofrendo com o aquecimento global, que elevou o nível do oceano, precisamente, o Oceano Pacífico.

A humanidade sofre com a pandemia da COVID-19, como também, com as mudanças climáticas. De acordo com o PNUD (2022, p. 51), “A crise climática de hoje não tem precedentes na História da Terra, devido à combinação de sua velocidade, magnitude eventual, escala global e causa humana”.

Na América, no Novo Mundo, o melhor IDH é o do Canadá (0,936) e o pior IDH é o do Haiti (0,535). E o Canadá aparece na 15ª posição mundial e tem o melhor IDH do continente americano e da América do Norte, além da mais alta esperança de vida ao nascer, com 82,7 anos; da melhor média de anos de escolaridade, com 13,8 anos; e dos melhores anos esperados de escolaridade, com 16,4 anos, conforme os dados de 2021 do PNUD.

O Haiti é o país que ocupa o 163° lugar no ranking mundial, que é composto por 191 países, além do pior IDH dos 20 países da América Central e dos 35 países da América. Os três principais problemas socioeconômicos do Haiti são a baixa expectativa de vida ao nascer, com 63,2 anos; a baixa média de anos de escolaridade, apenas 5,6 anos; e a baixa RNB per capita, de US$ 2.848 PPC em 2021. E o IDH haitiano caiu de 0,543 em 2020 para 0,535 em 2021, um decréscimo de 0,008.

Na África, o berço da Humanidade, o melhor IDH é o das Ilhas Maurício (0,802) e o pior IDH é o de Sudão do Sul (0,385). E o Sudão do Sul é o mais novo país do planeta desde 9 de julho de 2011. É uma nação africana que sofre com uma guerra civil desde dezembro de 2013, com 70% da população analfabeta, e praticamente, a mesma porcentagem da população vive em pobreza absoluta, ou seja, mais de 8,3 milhões de pessoas. E a expectativa de vida ao nascer é de apenas 55 anos (PNUD, 2022).

Infelizmente, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022 (2022, p. 12), “Os declínios recentes no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são generalizados, com mais de 90 por cento dos países em declínio em 2020 ou 2021”. E o subcontinente América do Sul, no biênio 2020-2021, foi uma das regiões mais atingidas com os severos impactos socioeconômicos da pandemia da COVID-19 e das mudanças climáticas.

Entre os 12 países da América do Sul, nos extremos opostos do IDH de 2021, é possível verificar que o melhor IDH e o pior IDH são o Chile (0,855) e a Venezuela (0,691), respectivamente. Na esperança de vida ao nascer, Chile (78,9 anos) e Bolívia (63,6 anos); Na média de anos de escolaridade, Argentina (11,1 anos) e Brasil (8,1 anos); Nos anos esperados de escolaridade, Argentina (17,9 anos) e Guiana (12,5 anos); e por fim, RNB per capita, Chile ($ 24.563 PPC) e Venezuela ($ 4.811 PPC).

O Chile é o país sul-americano de melhor desempenho no IDH, sem sombra de dúvida, e o país está na 42ª posição global. E o IDH chileno era de 0,852 em 2020 subiu para 0,855 em 2021, um acréscimo de 0,003. 

O IDH do Brasil era 0,758 em 2020 caiu para 0,754 em 2021 e queda de três posições no ranking mundial, da 84ª para 87ª colocação, em relação ao ano de 2020, e na América do Sul, encontra-se na 5ª posição, atrás do Chile (0,855), da Argentina (0,842), do Uruguai (0,809) e do Peru (0,762).

Verifica-se que o Brasil de IDH de 0,610 em 1990 cresceu para 0,754 em 2021, ou seja, um crescimento absoluto de 0,144 nos últimos 31 anos e um aumento relativo de 23,61%. E a expectativa de vida ao nascer do Brasil caiu de 75,3 anos em 2019 para 72,8 anos em 2021.

Verifica-se também pelo mundo que entre os três países com os melhores IDHs são a Suíça (0,962), a Noruega (0,961) e a Islândia (0,959), e os três países são europeus. Na outra ponta extrema do ranking de IDH mundial, aparecem nos três últimos colocados, o Sudão do Sul (0,385), o Chade (0,394) e o Níger (0,400), e os três países são africanos.

Entre os extremos opostos na esperança de vida ao nascer no mundo, Hong Kong (85,5 anos) e Chade (52,5 anos); Na média de anos de escolaridade, Alemanha (14,1 anos) e Burkina Faso (2,1 anos); Nos anos esperados de escolaridade, Austrália (21,1 anos) e Sudão do Sul (5,5 anos); e por fim, na RNB per capita, Liechtenstein ($ 146.830 PPC) e Burundi ($ 732 PPC), de acordo com o novo Relatório de Desenvolvimento Humano.

Em suma, a principal conclusão do artigo é que a pandemia da COVID-19 e as mudanças climáticas são os dois grandes responsáveis pelas quedas recentes no IDH no mundo (de IDH de 0,735 em 2020 caiu para 0,732 em 2021, um decréscimo de 0,003) e no Brasil (de IDH de 0,758 em 2020 retraiu para 0,754 em 2021, um decréscimo de 0,004). E o Brasil voltou ao patamar do ano de 2015, quando o IDH era de 0,753, em plena recessão econômica.

Enfim, desde 1990, o pensamento econômico de Amartya Sen e de outros economistas que defendem o desenvolvimento humano muito alto entre as nações, é necessário "resgatar a visão humanitária da economia e recolocar na agenda da discussão, em condição de absoluta prioridade" (MACHADO, 2019, p. 317), além de apontar os melhores caminhos para os países que possuem o IDH baixo como o Sudão do Sul, Iêmen e Haiti.

Conclui-se que no contexto da Era do Conhecimento, em plena Quarta Revolução Industrial, as mudanças necessárias para maior evolução socioeconômica no mundo e no Brasil, em tempos incertos, com a Guerra na Ucrânia, requer grandes investimentos em educação de qualidade, em saúde, em agropecuária, em aquicultura, em economia verde e em inovação tecnológica. 

Referências

BBC NEWS BRASIL. A 'guerra esquecida' no Iêmen: 8 anos de conflito e 700 ataques aéreos em um mês. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60758741#:~:text=A%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas,como%20consequ%C3%AAncia%20direta%20dos%20combates. Acesso em: 09 de setembro de 2022.

MACHADO, Luiz Alberto. Viagem pela economia. São Paulo: Scriptum, 2019.

PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: hdr2021-22pdf_1.pdf (undp.org). Acesso em: 09 de setembro de 2022.
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