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13/02/2023 às 15h53min - Atualizada em 13/02/2023 às 15h49min

A Reindustrialização Brasileira na Quarta Revolução Industrial

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

Ivan Dativo Filho
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No cenário de incertezas na economia mundial, hoje, pretendo escrever sobre a reindustrialização brasileira na Quarta Revolução Industrial, no objetivo principal de pensar como superar a desindustrialização prematura da economia brasileira, que vem ocorrendo desde a década de 1980.
 
Ademais, com a desindustrialização, a economia brasileira vem sendo caracterizada por baixa produtividade, baixa competitividade, e alta desigualdade de renda. Precisamos urgente, nas cinco regiões do País, aumentar consideravelmente os investimentos em tecnologia; o número de registros de patentes; os cursos de qualificação de mão de obra; e, principalmente, o contingente de trabalhadores qualificados na Indústria 4.0.
 
2 A REINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
Segundo o Conselho Federal de Economia (COFECON), “(...) reindustrializar a economia brasileira se torna imprescindível”. Em seguida, na mesma página, “É viável reverter a desindustrialização em curso no Brasil e promover uma reindustrialização” (COFECON, 2023, p. 66).
 
O processo de industrialização na República Federativa do Brasil tem três fases: a 1ª fase, o início da industrialização brasileira, de 1930 até 1947; a 2ª fase, a industrialização acelerada, de 1947 até 1980; e a 3ª fase, a desindustrialização precoce, de 1980 até os dias atuais.
 
Em 1947, a participação da indústria de transformação no Produto Interno Brasileiro (PIB) brasileiro foi 11,9%. Em 1985, a participação alcançou seu ápice com 21,6% do PIB, enquanto, em 2014, o seu pior declínio com 10,9% do PIB. Já em 2020, a participação da indústria de transformação foi de 11,3% do PIB nacional, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
Recentemente, o atual vice-presidente do Brasil e ao mesmo tempo ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o médico paulista Geraldo Alckmin (2023), enfatizou que “A reindustrialização é essencial para que possa ser retomado o desenvolvimento sustentável”, e que o Governo Lula III criou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), e a Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria.
 
Conforme o empresário Robson Braga de Andrade, o atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), “A reindustrialização é imprescindível para o Brasil voltar a crescer de forma consistente e sustentável”. E o setor secundário participou de 23,6% do PIB brasileiro em 2021, as exportações brasileiras de bens de alta e média-alta intensidade tecnológica responderam por 14,2%, e a indústria por 66,4% dos investimentos privados em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no País, (CNI, 2023).
 
3 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Primeira Revolução Industrial iniciou em 1760, no final do século XVIII, na Inglaterra, foi caracterizada pela introdução da máquina a vapor, do carvão e da locomotiva. E na Indústria 1.0 destacou-se a indústria têxtil.
 
A Segunda Revolução Industrial começou em 1870, no final do século XIX, nos Estados Unidos, foi determinada pela produção em massa, a linha de montagem, o motor à combustão, a produção de petróleo e eletricidade. E na Indústria 2.0 destacou-se a indústria automobilística.
 
A Terceira Revolução Industrial chegou em 1960, no século XX, nos Estados Unidos, foi identificada pela produção automatizada utilizando computadores, semicondutores, Internet e Tecnologia da Informação (TI). E na Indústria 3.0 destacou-se a indústria de chips.
 
E a Quarta Revolução Industrial surgiu em 2011, no século XXI, na Alemanha, é marcada pela produção inteligente, transformação digital, incorporada com a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas (Iot) e Big Data. E na Indústria 4.0 destaca-se a indústria de veículos elétricos.
 
Segundo o economista alemão Klaus Schwab (2016, p. 1), “estamos no início de uma revolução que está mudando fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos um com o outro”. E a Quarta Revolução Industrial envolve tecnologias físicas, biológicas e as pessoas, tendo como objetivo criar os produtos em tempo real e conforme a necessidade do cliente de baixa, média ou alta renda.
 
De acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), temos nove tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0: i) Internet das Coisas (IoT); ii) Computação em Nuvem; iii) Sistemas Integrados; iv) Impressão em 3D; v) Simulações; vi) Robôs Autônomos; vii) Big Data; viii) Realidade Aumentada (RA); e ix) Segurança Cibernética.
 
A Internet of Things (IoT) surge como o conceito de conectar qualquer dispositivo (sensores) que gere dados coletados e possa se conectar automaticamente a um serviço computacional em nuvem. E a IoT podemos observar em casas inteligentes, edifícios inteligentes, cidades inteligentes (smart cities), transportes inteligentes, vidas inteligentes, relógios inteligentes, fazendas inteligentes, e empresas inteligentes, capazes de produzir bens e de ofertar serviços cada vez mais sofisticados.
 
A Computação em Nuvem (Cloud Computing), a principal característica é a capacidade de fornecer serviços de computação incluindo servidores físicos e software de forma remota, com acesso via internet. Na era do conhecimento temos as seguintes empresas de tecnologia, a Meta, Amazon, Intel, Microsoft, Apple, entre outras.
 
Os Sistemas Integrados é a unificação dos sistemas de gestão e controle para conectar diretamente o chão de fábrica comum. Por exemplos, um vendedor de sandálias de borracha, consegue ter em tempo real a informação de como está o estoque da fábrica; ou, um gerente de RH ter informações sobre o setor contábil da fábrica.
 
A Impressão em 3D, também conhecida como Manufatura Aditiva, é a fabricação de peças em 3D através da adição de camadas de material no desenho tridimensional, exemplos, maquetes, peças automotivas, peças técnicas, miniaturas, e peças de plástico.
 
As Simulações na Indústria 4.0 caracterizam-se pelo uso de sistemas complexos, onde é possível criar uma cópia virtual do equipamento ou sistema de produção, permitindo que alterações virtuais sejam feitas antes de serem implementadas no processo produtivo em tempo real.
 
Os usos dos Robôs Autônomos vêm aumentando significativamente nas diversas áreas e atividades industriais. Nas tarefas simples por robôs, ou nas tarefas mais perigosas que possam gerar riscos a saúde do trabalhador. E “O Brasil possui 0,6% dos robôs instalados no mundo, a maioria usados para aplicação de soldas ou montagem no setor automotivo” (DE TONI, 2023, p. 18).
 
O Big Data pode ser definido como coleta e análise de dados massivos e diversos, e de informações estruturadas e não estruturadas, que são gerados digitalmente. Logo, coletar e analisar dados em tempo real é à base da Indústria 4.0, com forte uso da IA.
 
A Realidade Aumentada (RA) permite a consolidação de informações visuais em um único dispositivo para auxiliar na tomada de decisões em tempo real. E a RA é uma tecnologia que permite sobrepor elementos virtuais à nossa realidade, exemplos, cirurgias minuciosas; carros sob medida; traduções imediatas; e scanners faciais.
 
E a Segurança Cibernética é a prática de proteger ativos de informação de sistemas, computadores e servidores contra ameaças cibernéticas ou ataques ou invasões de hackers e de vírus. A Cyber Segurança é fundamental para as empresas proteger o banco de dados, as informações e as contas bancárias.
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a economia mundial foi bastante modificada em quatro revoluções industriais. E a Indústria 4.0 é a integração da manufatura com as tecnologias digitais e sua disseminação é vital para a economia brasileira, que vem em semiestagnação desde a década de 1980 (a primeira década perdida), pois o crescimento médio anual do PIB brasileiro foi de 1,66% ao ano no período 1981-1990, de 2,51% ao ano no período 1991-2000, de 3,67% ao ano no período 2001-2010; e de 0,28% ao ano no período 2011-2020 (IBGE, 2023).
 
Este artigo destaca que a Quarta Revolução Industrial poderá alavancar novos negócios e gerar novos empregos em diversos segmentos da economia brasileira, por exemplos, as indústrias de fabricação de produtos alimentícios; de bebidas; de produtos têxteis; de produtos de madeira; de celulose, papel e produtos de papel; de coque, de produtos derivados do petróleo e de bicombustíveis; de produtos químicos; de produtos farmoquímicos e farmacêuticos; de produtos de borracha e de plástico; de produtos de minerais não-metálicos; de produtos de metal; de equipamentos de informática, de produtos eletrônicos e ópticos; de máquinas, aparelhos e materiais elétricos; de máquinas e equipamentos; e de móveis.
 
Para os próximos anos, é esperado que surjam incontáveis novas tecnologias que poderão modificar as relações atuais e futuras de negócios. E a IA já está transformando a experiência do cliente no mercado competitivo e globalizado, por exemplo, o ChatGPT, capaz de elaborar artigos, letras de música, poesias, contos, receitas, etc.
 
Por fim, o Brasil é um país emergente, entre os dez maiores PIBs do planeta, onde as indústrias de transformação, que transformam uma matéria-prima em um bem industrializado, com certeza, sabem que a Indústria 4.0 trará mais benefícios do que prejuízos aos seus empreendimentos industriais e nacionais nos próximos anos, como também, do relevante papel do sistema educacional para tornar o Brasil numa nação digital competitiva na Quarta Revolução Industrial.
 
REFERÊNCIAS
ABDI. Indústria 4.0 pode economizar R$ 73 bilhões ao ano para o Brasil. Disponível em: https://www.abdi.com.br/postagem/industria-4-0-pode-economizar-r-73-bilhoes-ao-ano-para-o-brasil. Acesso em: 11 fev. 2023.
BRASIL. “A reindustrialização é essencial para a retomada do desenvolvimento sustentável”, diz Alckmin. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2023/01/a-reindustrializacao-e-essencial-para-a-retomada-do-desenvolvimento-sustentavel201d-diz-alckmin. Acesso em: 11 fev. 2023.
CNI. Plano para a retomada da Indústria: Propostas prioritárias para os 100 primeiros dias de Governo. Brasília: CNI, 2023. Disponível em: https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/1c/1d/1c1d7d11-5fd1-4b22-a57f-5794dbfde14d/p100dias_2701-final_web.pdf. Acesso em: 11 fev. 2023.
COFECON. Reindustrialização: para o desenvolvimento brasileiro. Disponível em: https://app.isend.com.br/iSend/external/magazine?encrypt=D193ED29AEB33321A9DA8DED3F6A6EE8E1EF626D192FA04BBAEA168C70EEB210. Acesso em: 12 fev. 2023.
DE TONI, Jackson. A urgência de uma nova estratégia industrial. Disponível em: https://app.isend.com.br/iSend/external/magazine?encrypt=D193ED29AEB33321A9DA8DED3F6A6EE8E1EF626D192FA04BBAEA168C70EEB210. Acesso em: 12 fev. 2023.
IBGE. Indicadores econômicos. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 12 fev. 2023.
SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016.
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