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04/03/2023 às 09h22min - Atualizada em 04/03/2023 às 09h20min

Por que o PIB Agropecuário retraiu no Brasil em 2022?

Paulo Galvão Júnior

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano de 2022. O PIB nominal totalizou R$ 9,9 trilhões, o PIB per capita alcançou R$ 46.154,60, e a taxa de crescimento do PIB brasileiro foi de 2,9% em 2022 em relação a 2021.
 
Conforme os dados oficiais do IBGE sobre os três setores econômicos no País, o setor agropecuário foi o único que recuou -1,7% no PIB em 2022 em relação ao ano de 2021. O PIB industrial cresceu 1,6%, e o PIB do setor de serviços avançou em 4,2% no ano de 2022 (IBGE, 2023).
 
Lendo na moderna biblioteca do UNIESP, e vizinho a Superintendência Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no estado da Paraíba, ambas localizadas na cidade portuária de Cabedelo, tornou-se enorme a procura pelos principais indicadores econômicos do continental Brasil para tentar entender melhor esta preocupante retração do PIB da Agropecuária.
 
Então, uma relevante pergunta: Por que o PIB Agropecuário retraiu no Brasil em 2022? Existem diversos fatores a serem considerados, mas, três fatores foram fundamentais para o PIB do agronegócio brasileiro alcançar R$ 675,5 bilhões no ano passado.
 
Primeiro, as mudanças climáticas impactaram negativamente a produção agrícola, sobretudo, a produção e a produtividade de soja por hectare. Com certeza, as secas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, além das enchentes nos estados da Bahia e de Minas Gerais prejudicaram a produção de soja no Brasil, o maior produtor e exportador de soja do mundo.
 
Atualmente, o Brasil é também o maior produtor e exportador mundial de café, de açúcar e de suco de laranja concentrado e congelado. E o segundo maior produtor global de carne bovina e etanol derivado da cana-de-açúcar. Além do terceiro maior produtor mundial de carne de frango e de milho. E o quarto maior produtor de algodão do planeta, de acordo com os dados da Food and Agriculture Organization of United Nations (FAO, em português, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
 
Segundo, as altas dos preços dos insumos para a produção agrícola, sobretudo, os fertilizantes, pelos impactos da Guerra na Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022, já que a Rússia é o maior exportador de fertilizantes do planeta.
 
Sim, precisamos importar fertilizantes da Federação Russa, do Canadá e de Marrocos para o crescimento da produção de grãos nas 27 Unidades da Federação, e atualmente, a República Federativa do Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cereais, atrás apenas da República Popular da China e dos Estados Unidos da América (EUA).
 
Terceiro, as maiores taxas de juros do mundo. A taxa Selic já alcançou 13,75% ao ano, dificultando seriamente o acesso ao crédito rural nas cinco regiões do País. Com certeza, os juros no populoso Brasil são abusivos e os juros dos cartões de crédito já ultrapassaram mais de 400% ao ano.
 
É possível verificar também que os recursos são escassos na agropecuária brasileira. Que a soja é o principal produto da agricultura brasileira. Que o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de carne de frango. E que o agricultor nem o pecuarista não podem produzir tudo o que quer, porque a renda é limitada, e os fatores exógenos como a insegurança nas áreas rurais, as mudanças climáticas, e o não uso de novas tecnologias para o campo, elas dificultam muito a produção agropecuária.
 
A economia é a ciência da escolha e cada agricultor ou cada pecuarista faz a sua própria escolha de produção, e o seu principal produto poderá ser consumido ou não por pessoas integrantes das classes econômicas A, B, C, D e E no País, como também, poderá ser exportado para mais de 190 países ou não.
 
A economia brasileira está desacelerando, é preocupante, porque a taxa de crescimento do PIB brasileiro foi de 5,0% em 2021, e desacelerou para 2,9% em 2022. E as atuais previsões econômicas do Relatório FOCUS são de crescimento do PIB do Brasil de 0,84% em 2023, ou, de 0,75% no próximo ano, de acordo com as projeções econômicas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
 
Agora, o Brasil é a décima segunda maior economia do mundo com um PIB nominal de US$ 1,919 trilhão em 2022 (AUSTIN RATING, 2023), e ultrapassado pelo Irã (11ª economia do planeta com PIB de US$ 1,973 trilhão) pelos sucessivos aumentos do preço internacional do barril de petróleo tipo Brent.
 
Em 2023, o PIB do agronegócio tende a cair de 2% a 4% no cenário mais pessimista, com elevadas taxas de juros, com mudanças climáticas, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendo nove linhas para financiamento e crédito rural, e com uma alta inadimplência, nos atuais 70,1 milhões de pessoas inadimplentes, mais do que a população da Tailândia, com 69,7 milhões de habitantes, que já suspendeu as importações de carne bovina brasileira (com 224,6 milhões de cabeças), devido o caso do mal da vaca louca no animal de nove anos no Pará. Todavia, já foi enviado pelo MAPA uma amostra para o escritório regional da Organização Mundial de Saúde Animal (em inglês, World Organization for Animal Health – WOAH), em Alberta, no Canadá, no qual já constatou no exame que o caso de vaca louca é atípico.
 
Precisamos estar atentos a gripe aviária em propagação nos países sul-americanos e vizinhos, a Argentina e o Uruguai, porque o Brasil tem 1,5 bilhão de cabeças de galináceos (galos, galinhas, frangos e pintos), é o quarto maior rebanho do planeta, atrás apenas da China, da Indonésia e dos EUA. E o PIB agropecuário poderá subir de 1% até 5% no cenário econômico mais otimista, pelo aumento da demanda nacional e internacional de alimentos.
 
Desta maneira percebe-se claramente como a agropecuária é importante para a economia brasileira em plena Indústria 4.0. Enfim, vamos estudar mais, pois, temos muito trabalho para inserir o emergente Brasil no relevante grupo dos países desenvolvidos como o Canadá e a Austrália ainda no século XXI.
 
REFERÊNCIAS
BACEN. Relatório FOCUS. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/R20230224%20(4).pdf. Acesso em: 03 Mar. 2023.
FAO. FAOSTAT. Disponível em: https://www.fao.org/faostat/en/#search/BRAZIL. Acesso em: 04 Mar. 2023.
IBGE. PIB cresce 2,9% em 2022 e fecha o ano em R$ 9,9 trilhões. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/36371-pib-cresce-2-9-em-2022-e-fecha-o-ano-em-r-9-9-trilhoes. Acesso em: 03. Mar. 2023.
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