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06/03/2023 às 22h08min - Atualizada em 06/03/2023 às 22h06min

A Índia é o principal motor do BRICS na atualidade

Paulo Galvão Júnior* & Jaqueline de Oliveira Moura**

Paulo Galvão Jr.

Paulo Galvão Jr.

Economista, escritor, palestrante, professor de Economia no UNIESP, autor de 12 eBooks de Economia pela Editora UNIESP e Conselheiro do CORECON-PB.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O acrônimo BRIC (em inglês, Brazil, Russia, India, and China) foi idealizado pelo então chefe de pesquisa em economia global do banco de investimentos americano Goldman Sachs, o economista britânico Jim O’Neill, no estudo intitulado Building Better Global Economic BRICs, de 30 de novembro de 2001. E naquela ocasião, o motor econômico do grupo BRIC era a China, com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 1,080 trilhão em 2000 (SACHS, 2023), sendo a quinta maior economia do mundo.
 
Em 23 de setembro de 2006, na 61ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o relevante termo do economista inglês Jim O’Neill foi incorporado na política externa de chanceleres de quatro países emergentes, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, para realizar uma valiosa cooperação diplomática no mundo multipolar.
 
A I Cúpula do BRIC aconteceu em 16 de junho de 2009, em Ecaterimburgo, na Rússia. Somente, em 14 de abril de 2011, por ocasião da III Cúpula do BRIC, em Sanya, na China, a África do Sul passou a ser um país membro do grupo, que imediatamente adotou a sigla BRICS (em inglês, Brazil, Russia, India, China, and South Africa).
 
Em 15 de julho de 2014, na VI Cúpula do BRICS, em Fortaleza, no Brasil, foi o criado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com sede em Xangai, na China. E o NDB (em inglês, New Development Bank) iniciou com um fundo de US$ 100 bilhões em julho de 2015 para financiar projetos de infraestrutura, de energia limpa, e de proteção ao meio ambiente, e o atual presidente do NDB, é o economista e diplomata brasileiro Marcos Troyjo, sendo uma excelente alternativa de empréstimos aos países emergentes diante da concorrência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
 
2 A ÍNDIA É O PRINCIPAL MOTOR DO BRICS NA ATUALIDADE
O grupo econômico BRICS representa 26% do Produto Interno Bruto (PIB) global, 20% do comércio internacional, 43% da população mundial e 27% da área territorial do planeta Terra. E os cinco países do BRICS têm 39,7 milhões de quilômetros quadrados, e uma economia combinada de cerca de US$ 26,1 trilhões em 2022, bem maior do que o PIB nominal dos Estados Unidos da América (EUA), o país mais rico do mundo, com um PIB total de US$ 25,0 trilhões (AUSTIN RATING, 2023).
 
PAÍS TAXA DE
CRESCIMENTO
DO
PIB EM 2022
PREVISÃO DE CRESCIMENTO
DO
PIB EM 2023
POPULAÇÃO
TOTAL
EM
2023
PIB
NOMINAL
EM
2022
IDH
EM
2022
IED
EM
2021
Índia 6,8% 6,1% 1,393 bilhão de hab. US$ 3,5 trilhões 0,633 US$ 45 bilhões
China 3,0% 5,2% 1,397 bilhão de hab. US$ 18,3 trilhões 0,768 US$ 181 bilhões
Brasil 2,9% 1,2% 215,3 milhões de hab. US$ 1,9 trilhão 0,754 US$ 50 bilhões
África do Sul 2,1% 1,2% 57,5 milhões de hab. US$ 0,3 trilhão 0,713 US$ 41 bilhões
Rússia -2,1% 0,3% 144,5 milhões de hab. US$ 2,1 trilhões 0,824 US$ 38 bilhões
BRICS 12,7% 14,0% 3,2 bilhões de hab. US$ 26,1 trilhões - US$ 355 bilhões
Quadro 1. Os principais indicadores do BRICS na atualidade.
Fontes: FMI, Austin Rating, PNUD e UNCTAD.

Além disso, o BRICS produz 26% do petróleo mundial, 40% do milho, 46% do trigo, e 50% do minério de ferro. A República da Índia é o país anfitrião da próxima Cúpula do Grupo dos Vinte (G20), em Nova Delhi. E é uma das sete economias com mais fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED), atingindo US$ 45 bilhões em 2021 (UNCTAD, 2021), atrás apenas dos EUA (US$ 367 bilhões), China (US$ 181 bilhões), Hong Kong (US$ 141 bilhões), Singapura (US$ 99 bilhões), Canadá (US$ 60 bilhões), e Brasil (US$ 50 bilhões).
 
Em 2021, a economia indiana cresceu 8,7% ao ano contra 8,1% da economia chinesa. Em 2022, a Índia cresceu 6,8% contra 3,0% da China. E a previsão do FMI que a economia indiana crescerá 6,0% contra 5% da economia chinesa em 2023, conforme o Quadro 1. Logo, a Índia é o principal motor do BRICS na atualidade.
 
Porém, a Índia encontra-se na 132ª colocação no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e na última posição do grupo RBCAI (em português, Brasil, Rússia, China, África do Sul, e Índia) que trata exclusivamente do IDH. E a Índia com IDH de 0,633 tem médio desenvolvimento humano, e será neste ano histórico, a nação mais populosa do planeta, ultrapassando a China.
 
A Rússia oferece a melhor qualidade de vida aos seus habitantes, com IDH de 0,824, em comparação com outros quatro países do BRICS. E o Brasil tem IDH de 0,754, com alto desenvolvimento humano, porém, foi ultrapassado pela China, com IDH de 0,768, em plena pandemia da COVID-19.
 
É importante estudar as medidas econômicas adotadas pela Índia e o que podemos tomar nota e aplicar ao crescimento do PIB brasileiro. De acordo com o FMI, a Índia desponta com crescimento econômico robusto entre os cinco países que compõem o BRICS, e possui grandes similaridades com o Brasil e a África do Sul nos indicadores de desigualdade, porém, o IDH indiano é pior do que os IDHs brasileiro e sul-africano, com cerca de 25% da população vivendo abaixo da linha da pobreza e mesmo assim vem apresentando destaque econômico à frente da China, a segunda maior economia do mundo.
 
Não podemos esquecer a abertura econômica da Índia a partir da década de 90. A Índia apresentou crescimento do PIB de 8,7% em 2021, mesmo possuindo uma renda per capita baixa (US$ 2.466) e uma população com mais de 1,3 bilhão de habitantes, voltada em grande parte para a agricultura, teve o maior estímulo diante das crises sanitária e econômica promovidas pela COVID-19. Diante do lockdown, ampliou-se o desemprego, a mão de obra ora destituída fora absorvida pelas lavouras. E tal atividade econômica ainda se beneficiou da forte exportação e investimento nacional privado.
 
O governo indiano adotou medidas fiscais mais brandas, impostos mais baixos, ambos contribuíram para o excelente resultado obtido em 2021, além de promoção as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas). Já em 2022, a taxa de crescimento como vemos no Quadro 1, foi de 6,8% e projetando 6,1% para o ano de 2023.
 
A Índia cresce na produção e na exportação de manufaturas, sendo o 17º lugar entre os maiores exportadores mundiais de manufaturas em 2021, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). E a Índia vem investindo privadamente e nacionalmente nos setores de educação e cultura, fazendo com os centros tecnológicos e culturais se desenvolvam mais. Hoje, existe o novo Vale do Silício na cidade de Hyderbad (com população estimada de 9,4 milhões de habitantes), alusão ao centro tecnológico estadunidense, e não é à toa, a Índia possui mais de 250 universidades voltadas ao desenvolvimento de novas tecnologias, nas mais diversas áreas, com a preocupação efetiva de serem as melhores no que fazem e não procuram bater de frente com a Microsoft ou a Apple, mas, sim no que essas deixam de fazer no mercado globalizado.
 
A República da Índia (ex-colônia do Reino Unido) ampliou seu nível de industrialização e aumentou seus investimentos em educação e tecnologia nos seus 28 estados e sete territórios, promovendo expansão e diversificação econômica mesmo sendo uma nação considerada rural, além de ampliar nas questões agrárias, extrativismo mineral, carvão como a principal fonte de energia, e o petróleo exportando mais. E com ampliação do leque de campos geradores de emprego e renda na sua economia emergente.
 
A milenar e asiática Índia ensina ao mundo e, principalmente, aos países emergentes como o Chile (cobre) e o Irã (petróleo) do que não se deve fazer, depender de uma única commodity, caso outras crises como a COVID-19 ocorram, necessitando de outras saídas econômicas e não sucumbir diante das adversidades, nas áreas da saúde, inteligência artificial, tecnologia da informação (TI), tecnologia de ponta, telemarketing, call centers, indústria farmacêutica, além da produção de alimentos, de moradias etc.
 
A Índia possui foco no crescimento econômico com estabilidade nos preços, com controle inflacionário (índice de inflação de 6,9% em 2022), sabendo-se que a regra informa que uma economia que cresce em média de 6% ao ano, em 12 anos consecutivos dobra a renda da população (SCHEINKMAN), esse dado esclarece o poder de compra, ampliação de renda e no futuro, coeteris paribus, considerando “tudo o mais constante”, o desenvolvimento da população, melhorando o IDH e os demais índices e indicadores socioeconômicos que são extremamente importantes a toda nação.
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando, a África do Sul encontra-se na anual e rotativa presidência do agrupamento de cooperação entre os cinco países emergentes, sendo anfitriã da XV Cúpula do BRICS, de 22 a 24 de agosto de 2023, no objetivo de fortalecer as relações econômicas entre a África e os BRICS, além de analisar as declarações formais de ingressar no grupo da Argentina, do Irã, da Argélia, e da Arábia Saudita, e se os quatro países emergentes forem aceitos como novos integrantes do BRICS, juntos formarão o BRIICSSAA (em inglês, Brazil, Russia, India, Iran, China, South Africa, Saudi Arabia, Argentina, and Algeria).
 
Em suma, o BRICS não é um bloco econômico, mas, sim um grupo econômico de cinco países emergentes que são o principal motor do crescimento econômico global, outro relevante motor da economia mundial é o Grupo dos Sete (G7), as maiores economias do globo, sendo elas, EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.
 
Enfim, com base no Quadro 1, a Índia com boas perspectivas econômicas, crescerá 6,1% em 2023, segundo o FMI. E o BRICS tem 3,2 bilhões de habitantes em busca diária de melhorar a qualidade de vida, cujos cinco líderes estão pensando em uma moeda comum. E o BRICS irá se expandir com a possível entrada de países emergentes como Turquia, Indonésia, Egito e Cazaquistão, mesmo não sendo considerado um bloco econômico os países membros possuem acordos comerciais com a finalidade de se beneficiarem com as trocas econômicas.
 
REFERÊNCIAS
FMI. World Economic Outlook. 2022 Oct. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/text%20(5).pdf. Acesso em: 05 Mar. 2023.
PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: https://hdr.undp.org/system/files/documents/global-report-document/hdr2021-22pdf_1.pdf. Acesso em: 05 Mar. 2023.
SACHS, Goldman. Building Better Global Economic BRICs. Disponível em: https://www.goldmansachs.com/insights/archive/archive-pdfs/build-better-brics.pdf. Acesso em: 04 Mar. 2023.
SANTANDER, Banco. Economia da Índia. Disponível em: Economia da Índia - Santandertrade.com. Acesso em: 04 Mar. 2023.
SILVA, Júlio César Lázaro da. O papel da Índia no grupo dos BRICS. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/o-papel-India-no-grupo-dos-brics.htm. Acesso em: 03 Mar. 2023.
UNCTAD. World Investment Report 2022. Disponível em: https://unctad.org/system/files/official-document/wir2022_en.pdf. Acesso em: 04 Mar. 2023.

(*) Economista, Conselheiro Suplente do CORECON-PB e Professor de Economia no UNIESP. E-mail: [email protected]
(**) Bacharela em Ciências Econômicas na UFPB e Estudante de Ciências Contábeis no UNIESP. E-mail: [email protected]
 
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